• Epidemia de pés-de-galinha

    Publicado por: • 8 ago • Publicado em: Caso do Dia

     As artistas de novelas que conseguiam parecer bem mais novas antes do surgimento do full HD devem estar odiando a nova tecnologia. Com a altíssima resolução, você as enxerga até melhor (ou pior) que elas realmente são na vida real. A primeira coisa que salta aos olhos é pé-de-galinha, mas talvez isso seja o de menos.

     Exemplifico: no domingo à noite, vi a Adriana Galisteu em close, então você vê como o tempo é implacável. Se eu tivesse saído do país logo antes do HD e tivesse voltado um dia depois, juraria que se passaram uns bons 20 anos. E não é só ela. Alguns trejeitos de homens também saltam aos olhos. Mesma coisa com as roupas. Até a metade dos anos 1980, os apresentadores e artistas poderiam ir ao estúdio com roupa do avô que passava batido. Quando as 575 linhas deram lugar às mais de mil, complicou.

     Era risível ver apresentadores com paletós que pareciam sob medida mas, no novo formato, mostravam dobras que não se viam antes, e, pior, paletós ajustados nas costas. Dava para quase ver os alfinetes. Eu sempre me sentia inquieto, por favor não espirre seu Cid Moreira.

     Com o tal de full HD, não tem mais como enjambrar roupas, pelo menos não em produções caprichadas. E também se notam erros de continuidade, roupas de artistas em segundo plano que não estavam neles em cena anterior. Mas há um truque que se pode fazer para realçar os erros da produção: tire o áudio. Sem ele, a visão capta mais detalhes porque o cérebro não precisa ouvir e ver ao mesmo tempo. Aí dá para notar os canastrões e canastronas.

     Sem áudio, olhe uma daquelas tantas cenas em que alguém que estava fora de quadro, de repente, irrompe na cena. Dá para ver, pela linguagem corporal, que o personagem estava parado e não vinha caminhando naturalmente. Não é um caminhar natural, ele estava estaqueado só esperando ordens.

     A conclusão é que não adianta só ter bons atores. A produção tem que ser muito caprichosa nos seus mínimos detalhes.

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  • Os cabarés de Porto Alegre (final)

    Publicado por: • 8 ago • Publicado em: A Vida como ela foi

     Para quem não conheceu os cabarés dos anos 1960 e curte casas noturnas de garotas de programa, o caminho mais curto é sempre linha reta. O cara vai, bebe doses várias de coragem e se atraca em uma. Incontinenti, ela se enrosca no cliente como fosse cipó em câmara rápida. Nos cabarés não, neles havia todo um ritual. Primeiro, que havia quase sempre uma pista de dança e, se o layout da casa não desse lugar a uma, improvisava-se. Então, quem entrava dava uma geral na casa, mais como macho típico a delinear seu território, do que propriamente começar a seleção – elas ficavam sentadas em sofás ao redor da pista, em mesas, quando o espaço permitia.

     O começo era assestar o radar em uma. A diferença começava aí, elas não pulavam no seu pescoço como zumbis. Não, no início eram olhares furtivos de lado a lado. Depois de algum tempo de olhares cada vez mais fulminantes, as opções eram duas: você a convidava para dançar ou para sentar ao seu lado ou à sua mesa, se fosse o caso. A ungida então sentava-se e aí vinha o papo que Adão deve ter perguntado a Eva, nome, o que faz, de onde veio e ela pediu o seu perfil. Normalmente, mentia-se, ou para cima ou para baixo.

     Os que preferiam dançar, faziam-no solenemente. Primeiro, tinha que ser boa de pé, e estou falando de danças de salão. Na mesa ou rodopiando, vinha o momento de sentarem lado a lado. E lá vinha o garçom na velocidade do Papa-Léguas. O que vai querer, madame, e o senhor, cavalheiro. Quando o cavalheiro não se coçava, ela tomava a iniciativa. Nas casas de menor valor agregado, ela vinha com essa:

     – Paga uma Cuba, benhê?

     Rum e Coca-Cola sempre foram o líquido oficial dos cabarés da classe média. Na alta, a pedida era champanhe. Na maior parte das vezes, vinha uma Peterlongo demi-sec, servida naquelas taças largas que pareciam uma piscina oval. As bolinhas que estouravam faziam cócegas na ponta do nariz.

     Depois, bem depois, vinha a questão do preço. Gaúcho é conhecido no Brasil inteiro por pechinchar. Em Porto Alegre, só havia dois ou três motéis, ficavam longe, e o automóvel era para poucos. Daí que as casas tinham alguns poucos quartos. Já na época, tinha fila de espera.

     E finalmente, vinha o Combate de Eros. Para quem ia pela primeira vez, especialmente os jovens, a epopeia era contada em prosa e verso para a turma de amigos durante meses. E obviamente que cada um dizia que a mina tinha se apaixonado por ele e que ele tinha dado pelo menos umas três sem voltar para posição de descanso. Como sentinela de quartel, sempre de prontidão.

     O que era uma grossa mentira, vocês sabem. Pura gabolice. Ninguém tinha depoimento da mulher registrada em cartório e com firma reconhecida. E, na maioria das vezes, as duas horas de prazer na cama resumiam-se em poucos minutos e tanto.

     Como dizem os milicos da Infantaria quando se referem à arma da Cavalaria, serviço rápido e mal feito.

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  • Às vezes, venho aqui de noite. E durmo aqui com frequência.

    • Nicolás Maduro, sobre o túmulo de Hugo Chávez •

  • O preço da esculhambação

    Publicado por: • 8 ago • Publicado em: Notas

     Olhem só no que resulta essa esculhambação, com caminhoneiros trancando rodovias gaúchas.  O texto fala por si:

     COMUNICADO GM MERCOSUL

    Devido ao clima de insegurança causado pelas manifestações e paralisações promovidas pelos caminhoneiros, a General Motors Mercosul se vê obrigada a cancelar sua produção no Complexo Industrial Automotivo de Gravataí, a partir de amanhã, dia 08 de agosto. A produção será restabelecida assim que existirem condições seguras de transporte de materiais do Porto de Rio Grande até a cidade de Gravataí.

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  • As miseráveis

    Publicado por: • 8 ago • Publicado em: Notas

     Mais uma vez perdi a crença no ser humano por causa de uma esferográfica. Sempre digo que a humanidade está prestes a descer em Marte, já caminhou na Lua, mas não consegue fabricar uma canetinha que dure até o fim da carga. A última foi aqui no jornal.

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