• O cavalo verde

    Publicado por: • 14 jan • Publicado em: A Vida como ela foi

    “…o pior, doutor, é que eu também fui ficando verde”

    A propósito do alarmismo em torno da febre amarela: na década de 50, estava de plantão no Hospital Veterinário da Faculdade de Agronomia da Ufrgs o falecido professor José Jardim Freire, um dos maiores nomes da parasitologia brasileira. Ele contava que certo dia alguém ligou para o hospital perguntando se os veterinários poderiam ir ver o que estava acontecendo com seu cavalo. Freire disse que, a princípio não, que eles atendiam animais no próprio hospital, a não ser que fosse uma doença excepcional. O cara então disse que sim, era uma doença fora do normal, que nunca havia visto algo semelhante. – Meu cavalo está ficando verde. Estupefato, Freire pediu maiores detalhes. – É, verde. Começou no lombo. Aquele esverdeado foi ficando cada vez mais forte, depois pegou a cabeça e até a cola. O veterinário se interessou de vez no caso. – Mas como foi acontecer? O senhor deu a ele algum remédio, alguma comida diferente? – Não, tudo normal. Mas o pior, doutor, o pior é que eu também comecei a ficar da mesma cor. Eu estou sempre montado no bicho, e acho que ele passou a praga para mim. Estou todo verde também, juro! Aí a atenção de Freire foi total. Pegou papel e caneta e pediu o endereço, que ele iria em seguida visitá-lo. – Pois não, doutor. Anota aí: meu nome é Marechal Deodoro da Fonseca e o endereço é a parte central da Praça da Alfândega. Durou um segundo para cair a ficha do professor e perceber o trote cavalar do qual foi vítima

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  • O azar do Betinho

    Publicado por: • 11 jan • Publicado em: A Vida como ela foi

    “…antes que alguém pudesse segurá-lo, se foi em alta velocidade”

    O Betinho era um dos melhores repórteres policiais dos anos 60. Só que às vezes, ele se empolgava tanto que misturava as coisas e dava uma de auxiliar de policial. Coisas da época. Certa madrugada, ele acompanhou uma equipe da Delegacia de Furtos e Roubos numa batida na Vila Bom Jesus. Os policiais buscavam um assaltante linha de frente. Perigoso. A turma chegou ao barraco onde o cara presumivelmente estava. Uma viatura iluminou a casinha com os faróis e os policiais começaram seu trabalho. – Saí aí de dentro, cara! E sai com as mãos pra cima! Silêncio. Nenhum som veio em resposta, nenhuma luz se acendeu. – Pela última vez, sai agora ou vai bala! Ainda silêncio. – Então tá. Tu pediu. Engatilharam as armas e já iam para o serviço, quando Betinho inchou o peito e berrou: – Deixa comigo! Falou e fez. Antes que alguém conseguisse segurá-lo, engrenou uma primeira e se foi em alta velocidade, jogando se contra a porta com tudo. Desapareceu na escuridão. Passaram-se alguns segundos. Em seguida, veio uma voz estrangulada em algum lugar do outro lado. – Me tirem daqui! A turma apressou-se e entrou, temendo o pior. Não tinha nada do outro lado, o barraco tinha apenas a parede frontal, a escuridão camuflava a coisa. Endereço errado. Do outro lado, no que deveriam ser os fundos da casa, havia um valão cheio de merda. E dentro dele, Betinho. Atolado na merda até o pescoço.

     

     

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  • O pingüim

    Publicado por: • 10 jan • Publicado em: A Vida como ela foi

    “… a manchete foi uma pérola”

    Não é de hoje que o verão gaúcho tem a capacidade de esvaziar o mundo das informações. Pára tudo. Quem não está de férias, está sem assunto. Os políticos somem. As agências de publicidade sempre se queixam que os anunciantes não deveriam ficar ausentes neste período. Mas ficam. Ou diminuem. Até porque os executivos das empresas estão todos salgando o lombo nas praias gaúchas e catarinenses. Mais para o final da década de 60, Porto Alegre tinha seis jornais diários e um era o Diário de Notícias, do então poderoso Diários e Emissoras Associados, de Assis Chateubriand. Num final de semana de fevereiro, sem nenhum assunto de maior importância para ocupar a capa, o jornal botou uma enorme foto de um pingüim que deu com os costados em Torres. A manchete foi uma pérola: “Apareceu um pingüim em Torres!”, assim mesmo, com exclamação. E logo abaixo, no que se chama no jargão jornalístico linha de apoio: “Sabe Deus de onde ele veio!”. Provavelmente do Saara. Ou do Caribe.

     

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  • A traição da cozinheira

    Publicado por: • 9 jan • Publicado em: A Vida como ela foi

    “…sorte tua, azeitona só nessa”.

    O falecido chargista Sampaulo, que Deus o tenha, gostava muito de contar uma que aconteceu com ele envolvendo empadas e azeitonas. Na rua André da Rocha, havia um bar especializado em reunir jornalistas e boêmios, também famoso por suas empadas, pequenas porém saborosíssimas. O propreitário do estabelecimento, conhecido mão-de-mulita, gabava-se que azeitona era artigo muito raro no quitute, porque cara. Por alguma razão, encanzinou que azeitona comia seu lucro. Mania de biriteiro, claro. Bueno. O Sampa chegou lá numa manhã de sábado e pediu uma empada. Ela veio, ele comeu e, triunfante, exibiu a azeitona escondida no miolo. – Sorte tua, foi só nessa – disse o proprietário. Sampaulo então pediu outra. De novo encontrou uma azeitona. – Coincidência, acontece – falou, mas já de cara amarrada, olhar atravessado para a cozinha. Na terceira empada comida por Sampaulo, outra azeitona. – Vai ver a cozinheira se enganou. Na quarta sorte grande azeitoneira, o dono do bar não falou mais nada. Levantou, foi para a cozinha e deu uma porrada na cozinheira

     

     

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  • Uma tampinha como testemunha

    Publicado por: • 8 jan • Publicado em: A Vida como ela foi

    “…o Coelho engoliu um desmentido maior e mais indigesto que sapo barbudo”.

    No início dos anos 70, a Antárctica comprou no maior sigilo a Cervejaria Polar, de Estrela. Eram outros tempos e acionistas minoritários não tinham os direitos que tinham hoje. Muitos entraram pelo cano, e não foi cano de barril de chope. Era titular do Informe Especial de Zero Hora o falecido e inesquecível jornalista Carlos Coelho. Sabujo velho, pai de todas estas colunas que andam por aí, farejou o negócio e deu uma nota na sua coluna. Deu rebuliço do grande. Como ainda faltavam detalhes para fechar o negócio, ambas as partes negaram veementemente a transação e Coelho foi obrigado a engolir um desmentido maior e mais indigesto que um sapo barbudo. Dias depois, estava Coelho e este que vos escreve no bar Porta Larga, que ficava ao lado e ZH, quando alguém pediu uma cerveja Antárctica. O Coelho pegou a tampinha e, olhando por olhar, ficou surpreso ao ler na borda que estava escrito “Fabricado pela Cervejaria Polar”. Confirmado. Coelho voltou para o jornal e confirmou a transação. Via tampinha. Desta vez, ninguém desmentiu.

     

     

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