• Receita do Nhô Bento

    Publicado por: • 7 ago • Publicado em: Notas

     Voltando à vaca fria: depois de bater a gema, bata a clara, coisa que eu nunca consegui fazer nem com batedeira elétrica, e a adicione aos poucos à gema. É bom botar a mistureba toda numa caneca grande. Depois coma, mas tem um segredo, invenção minha, aos míseros sete ou oito anos: coloque uma gota ou duas de essência de baunilha e bata de novo. É um troço de bom.

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  • Naqueles tempos…

    Publicado por: • 7 ago • Publicado em: Notas

     …como dizia Jesus, algum agregado do meu pai resolveu turbinar a gemada colocando uma generosa dose de cachaça com mel e canela. A canela OK, mas cachaça, olha, não era bem isso que queria saborear. Isso é coisa de pinguço. Quando ele me falou o que faria com a gemada, abri um bocão. Então tira a gema e a clara e bebe cachaça com mel e canela, mas não te mete na minha invenção!

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  • A serrana

    Publicado por: • 7 ago • Publicado em: Notas

     Ele riu. Eu que ficasse com minha gemada porque ele aceitaria meu conselho. Anos mais tarde, descobri que essa mistura, cachaça, mel e canela, era bebida nas noites frias de inverno quando carregavam o caminhão do meu pai com fardos de alfafa, que serviam para alimentar os cavalos dos quartéis do Exército, da cidade grande. O nome era serrano ou serrana, que a alemoada pronunciava “seróóna”, assim mesmo, estendendo o ó.

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  • O 1313

    Publicado por: • 4 ago • Publicado em: Caso do Dia

     Todos os holofotes miram o momento atual brasileiro, então não sobra muita luz para o resto. Mesmo que sejam assuntos vitais. Com exceção do futebol, especialmente quando se trata de Neymar. Um colega aqui do jornal entrou correndo para dizer, triunfante, que oito minutos do salário do jogador são oito minutos do piso salarial de um jornalista.

     Não sei de onde ele tirou esse cálculo. Nem em um ano. Piso de jornalista gaúcho sempre foi pífio, o contracheque para quem recebe o piso da categoria é um atestado de pobreza absoluta. Ganhamos menos do que um cobrador de ônibus de Porto Alegre – sem desmerecer a categoria, apenas comparação, por favor.

     De qualquer forma, comparar bananas com laranjas nunca deu samba. Nem Neymar saberia escrever um texto médio e nem os jornalistas conseguiram fazer uma só jogada igual a ele em oito minutos. Especialmente, os repórteres esportivos. Enfim, não faz sentido.

     Lembrei de uma história do Lula, na primeira campanha para presidente, quando alguém o acusou de só ter o curso fundamental. Um colega dos antigos tempos, quando ele ainda trabalhava em uma montadora para que a Mercedez Benz – é o que se dizia – tomou sua defesa. Ao lado de dele, gritou no microfone de rádio que entrevistava o candidato.

     – Lula, pergunta pros engravatados se eles sabem quantas polegadas têm o eixo do cubo da roda de um caminhão 1313!

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  • Os cabarés de Porto Alegre

    Publicado por: • 4 ago • Publicado em: A Vida como ela foi

     O cabaré é uma instituição mundial que, cá no Sul, sofreu uma metamorfose. Le Grand Cabaré, por exemplo, é um programa da TV francesa do animador Patrick Sebastièn, exibido quase todos os sábados por volta das 23h, um conjunto de acrobatas, mágicos, humoristas, mímicos e outros artistas, um espetáculo que recomendo. Foi assim que eles chegaram ao Brasil, em especial no Rio de Janeiro dos anos 1940/50.

     Para variar, no Rio Grande do Sul tinha que ser diferente. Cabaré, também chamado erroneamente de rendez-vous, era uma casa de garotas de programa muito antes dessa expressão ser inventada. Prostitutas de alto luxo, meia-boca ou em petição de miséria. Reinava absoluta a boate Mônica, no Cristal, cuja dona era uma senhora que veio do Leste Europeu, búlgara ou húngara. Traduzia até Thomas Mann, uma intelectual fugida das delícias do comunismo.

     Cabarés abundavam. Dorinha, Ma Griffe, Lygia, Marlene, Soninha, Míriam, Antônia e vários Dois Leões – havia vários, porque ficavam em casas de tempos antigos cuja arquitetura sempre botava a cabeça de dois leões no portão principal. Tinha ainda a Casa dos Barbantes e uma casa incrível, que apelidamos de Cabaré da Bandinha. Não havia garotas novas, na maior parte dos casos, acima de 27/28 anos. E se você pensa que era o paraíso das doenças venéreas, está muito enganado.

     Todas que tinham a prostituição como profissão eram obrigadas a portar a Carteira da Saúde, expedida pela Secretaria da Saúde, que exigia que elas fizessem, pelo menos uma vez por mês, cultura de urina e exames de sangue. Se desse negativo, vinha um carimbo, que muitos fregueses faziam questão de ver antes mesmo de acertar o preço. Não se teve notícia que estas mulheres tivessem falsificado o carimbo, algo relativamente fácil, então vocês entendem quando minha geração diz que o mundo era infinitamente melhor do que hoje?

     Na segunda-feira, conto mais sobre estas casas, suas mulheres, que até se apaixonavam por seus clientes.

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