A Noite dos Pálidos

11 set • A Vida como ela foiNenhum comentário em A Noite dos Pálidos

Final de 1966. Antes de entrar para valer no jornalismo, eu fui assistente da gerência da casa matriz de um grande banco gaúcho, o Província. A sede existe até hoje, na esquina das ruas Uruguai com a Sete de Setembro, atualmente, Santander.  

Foi o primeiro prédio do Estado a contar com escadas rolantes. Mármore de Carrara em boa parte dos andares, cobrindo chão, paredes e banheiros. Digno do Velho Jequitibá, como era conhecido. Foi comprado pelo Montepio da Família Militar, virou Sulbrasileiro, e o resto vocês conhecem.   

Foi por esta época que abriu o que seria a primeira uisqueria de Porto Alegre, o George’s, no início da Cristóvão Colombo, perto da Barros Cassal. Eu nem me atrevia a entrar, porque sabíamos todos que o valor das bebidas era altíssimo.

Naquele tempo, até o uísque nacional era caro. O importado caríssimo, na altura da estação espacial, umas 20 vezes – no mínimo – o preço de hoje.  Certa noite, um dos gerentes, Darcy Pinho Bandeira, convidou-me para ir ao George’s, juntamente com um grande fazendeiro do Alegrete, o major Pedro Olímpio Pires, e outro estancieiro do Quaraí, cujo nome me escapa.

Achei que, com tanta gente abonada, na mesa eu finalmente beberia o néctar sem me preocupar com a dolorosa. Sentamos e, em seguida, o major, conhecido por suas fartas noitadas, pediu um uísque. Do melhor, frisou ele, do melhor. O que equivalia ao mais caro.   

O garçom depositou respeitosamente na mesa uma garrafa dentro de um veludo preto, onde estava escrito Royal Salut. Fiquei sabendo depois, era o Chivas Regal envelhecido uns 500 anos, acho.

Ninguém perguntou o preço e então fomos todos para Passárgada. Para quem, como eu, só bebia uísque Mansion House (o famoso “Mãos ao Alto”) no Carnaval e, mesmo assim, em parceria com mais três.   

Porém – e sempre tem um – não bebi lá muito sossegado. Imaginei que aquilo custasse os tubos e, pensei, e se – ao final – o Major vier com a terrível frase “Racha por quatro”?

Hora de ir embora, uma garrafa depois, veio a conta. Quase desmaiei. Ficamos todos pálidos. Minha parte dava meio salário. Por sorte, o Major abraçou a dolorosa.

https://www.brde.com.br/

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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