• A insônia japonesa

    Publicado por: • 11 maio • Publicado em: A Vida como ela foi

    Quem tem insônia ou dificuldades para dormir ouve rádio, ou faz palavras cruzadas. Tem gente que pega no sono com o monólogo da mulher deitada ao seu lado. Só exige um treinamento, o de dizer “hmm” de vez em quando. Isso é programável. Falando por mim, a TV é o maior sonífero que existe. O problema é que nessa minha profissão você é treinado para ver e captar palavras-chave, que imediatamente te deixam esperto. Digamos que eu sou um ótimo cão treinado por Pavlov, ou como um dos tantos softwares de filtros de palavras-chave ou padrões de fluxo, e até da falta dele. Então eu vivia acordando bem na hora que começava aquele estágio do soninho gostoso. Falei no tempo passado porque hoje nem durmo mais, desmaio.
    Voltando à vaca fria. Logo que surgiu a TV por assinatura, e descontado programas que realmente eu gostava e gosto de ver, eu deixava a TV ligada no canal de notícias japonês NHK. É difícil entender qualquer coisa dos nipônicos, então aquele rosário de palavras monocórdicas e ininteligíveis me conduziam rapidamente para os braços de Morfeu. Até o dia em que meu software começou a ficar alerta até para japonês. Deu-se assim: meu quase-sono fluía calmo e sereno quando aconteceu o desastre. Meu sono fluía tranquilo como as nuvens das Eternas Planícies dos índios norte-americanos quando uma palavra captada pelo meu sonar destruiu meu dormir, um som no meio de uma frase do âncora, umazinha só, mas destruiu meu dormir.
    – …Brasil…
    Desde aquele tempo não consigo mais dormir quando sintonizo no NHK. Como os computadores da NSA, até a ausência de fluxo os deixa alerta

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  • Duas alemãs

    Publicado por: • 29 abr • Publicado em: A Vida como ela foi

    Dou-lhe uma…

     

    O cara está num bar, bebendo cerveja. A cada copo bebido, tira uma foto do bolso e a contempla. Depois da sexta cerveja, o barman pergunta-lhe porque faz aquilo. O homem responde.

    – É a foto da minha mulher. Quando eu começo a acha-la sexy, aí pela quarta cerveja, vou para casa.

     

     

    …dou-lhe duas

     

    Baile de kerb em cidade do Vale do Caí. Um nativo que melhorou de vida na cidade grande voltou para a terrinha para procurar uma mulher para casar. Olha em volta e vê uma que é muito bonita. Sem titubear, vai até a mesa onde ela está com os pais e a tira para dançar. Ela aceita. A bandinha tocava a valsa “Amor de pobre”. Os dois rodopiam no salão. Quando a valsa chega ao fim, ele engrena uma primeira.

    – Como é teu nome, uma veiz?

    – Chisele.

    Ele abre um largo sorriso.

    – Och! O mesmo nome da minha moto!

     

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  • A idiotice perfeita

    Publicado por: • 27 abr • Publicado em: A Vida como ela foi

    “…acostume-se com a posição correta do corpo para executar a tarefa de amarrar o calçado com segurança. O risco de perder o equilíbrio é grande quando se faz isto com o corpo curvado ou abaixado. Uma boa posição é apoiar o pé do sapato a ser amarrado no degrau da escada, por exemplo, e manter o outro no chão, com atenção para não perder o equilíbrio. Sentado é a posição mais segura. Crianças podem sentar no chão e pessoas idosas ou com problemas de saúde podem sentar na cadeira e usar um banco mais baixo para apoiar o pé. Escorado ou apoiado nem sempre é uma boa opção.

    Seja eficiente ao dar o laço para que ele não solte facilmente. Mas, como manter o laço firme? Após dar o laço, segure o cadarço no ponto entre o buraco do sapato e o nó do laço com os dedos polegar e indicador, dos dois lados dos passadores, um com cada mão, e puxe para as laterais. O primeiro nó ficará mais firme e o laço tenderá…”

    Esse texto acima é apenas parte de um minucioso manual da arte de amarrar os sapatos. De certa forma é um resumo dos tempos atuais. Mandamos sondas pousarem em asteroides do tamanho de uma cancha de basquete e até Marte, a Voyager está viajando há mais de 30 anos espaço sideral afora, estamos em pleno desenvolvimento de carros sem motorista, e ainda precisamos de manual de amarrar cadarços, cáspite!!!

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  • De calvos e galos

    Publicado por: • 24 abr • Publicado em: A Vida como ela foi

     

    Piadas sobre economistas são comuns e a categoria as atrai como metal atrai raios. A última – contada por um deles – é perguntar por que os economistas costumam ser carecas. A resposta: porque de manhã cedo eles abrem os jornais e passam a mão na cabeça dizendo:

    – Puxa, errei mais uma!

    Pura maldade. Uma outra história sobre esta nobre e injustiçada categoria é do tempo em que eu fazia o Informe Especial da Zero Hora, nos anos 80. O empresário Carlos Reinaldo Mendes Ribeiro representou a Fiergs em uma missão na Colômbia, a convite do governo local. Entre visitas, almoços, palestras e jantares, ele ficou sabendo que as universidades colombianas despejavam economistas aos magotes no mercado de trabalho.

    Isso obviamente resultou em muitos destes profissionais desempregados. O cabra se formava e não tinha onde trabalhar. O governo então teve que criar cargos para empregar o excedente. Aquela coisa de sempre, no nosso é uma facilidade total.

    Uma das últimas visitas dos gaúchos foi para um aviário modelo de uma estatal colombiana, empreendimento que utilizava técnicas galináceas avançadas. Ribeiro estranhou que os galinheiros, por assim dizer, tinham meia dúzia ou pouco mais de galinhas para dois ou três galos. Puxou a manga do funcionário e disse a ele que, no Brasil, um galo dava conta da mesma quantidade de galinhas. O guia riu.

    – Bem, galo mesmo é só um. Os outros são economistas…

     

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  • A visão da grama

    Publicado por: • 22 abr • Publicado em: A Vida como ela foi

     

    Causo dos tempos de aeroclube. Um aluno se matriculou no curso para obter brevê de piloto para escapar do serviço militar, obrigatório da época. Como não se apresentou em tempo hábil, ou tirava o curso de piloto privado ou cana. Era um tipo intelectual, com óculos de aro de tartaruga, sabia tudo sobre o pensamento aristotélico e nada sobre estol e menos ainda sobre a arte de voar. Dizem que ele entrou no CAP4 Paulistinha e perguntou se a primeira marcha era como no Fusca. Mas aí já era maldade.

    Um inspetor do Departamento de Aviação Civil (D.A.C), o Infraero da época, de sobrenome Calmon, ficou com pena do rapaz e pediu para um instrutor, não lembro se do aeroclube de Caxias ou do RGS, na época em Canoas, que desse aulas extras, levando em consideração a lamentável falta de vocação aeronáutica do rapaz.

    Nem ele aguentou o tranco. Desistiu depois de umas boas 10 horas de voo e o expulsou do curso. Contou ao Calmon que em desespero de causa tentou tirar um mínimo do aluno problema. Quando o Paulistinha entrou na reta final, biruta à vista, o instrutor perguntou ao aluno se ao menos pudesse dizer a velocidade e a direção do vento. O rapaz abriu a janela corrediça.

    – Forte. E de frente.

    Meses mais tarde, surgiu outro causo dele. Nas primeiras aulas, quando o grupo de alunos fazia o reconhecimento da pista, alguém perguntou se conseguia ver o fim da pista. Ele apontou o dedo.

    – Mas claro! É ali, onde a grama nasce abrupta.

     

     

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