• Um adultério duvidoso

    Publicado por: • 16 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    Nestes tempos de protestos dos indiciados por algum ou outro malfeito, lembro de um episódio do senador Daniel Krieger. Nos tempos do regime militar, um político acusado de algum delito foi à televisão dizer que estava sendo vítima de uma calúnia. Krieger, que assistia ao desabafo do acusado, virou-se para um amigo e sentenciou:

    – Pior que é uma calúnia verdadeira…

    Conheci políticos que conseguiam mentir com tamanha ênfase que até eles mesmos acreditavam na sua inocência. Quando eu era repórter da área policial da madrugada da ZH, final dos anos 1960, o adultério ainda era crime, coisa que não faz o menor sentido, realmente. Mas para provar que ele se deu de fato, era um parto. Só em flagrante, com testemunhas, os dois deveriam estar em pleno Combate de Eros etc. Pois certa madrugada de deu uma tentativa de flagrante de chapéu de vaca.

    O marido acionou o Plantão da Polícia Judiciária dizendo que sua mulher estava na cama com – para variar – seu melhor amigo, transavam. Tenho a vaga impressão que o delegado de plantão era o Diniz de Oliveira. Uma caravana policial foi ao endereço do indigitado traído, um sobrado no Menino Deus. Não rolou.

    Mais tarde, o delegado me confidenciou que o marido abriu a porta e todos viram os corpos nus mais entrelaçados que corda de atracar navio. O amante negou que estavam transando debaixo das cobertas, o que todos estavam vendo. Ele negou com tanta veemência que as testemunhas ficaram na dúvida, os policiais ficaram na dúvida e o delegado ficou na dúvida diante de tanta persuasão.

    Parece que até a amante ficou na dúvida, contou o policial mais tarde. Se esse negócio de autoconvencimento for verdade, acho que até o fogoso amante ficou na dúvida.

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  • Tio Aécio… e Tio Lula

    Publicado por: • 13 jul • Publicado em: Caso do Dia

    Aécio Neves venceria o ex-presidente por 48% a 33% para a Presidência da República, segundo pesquisa Ibope publicada pelo Estadão, 59% a 41% pelo critério dos votos válidos. Empate técnico (40% a 39) se o governador Geraldo Alckmin fosse o candidato.

    Há outros dados na pesquisa, como o fato de que Lula só ganharia de Aécio no Nordeste e que leva vantagem apenas entre eleitores que ganham entre 1 e 4 salários mínimos. Já Aécio vence nos segmentos por idade, sexo e tamanho do município. Para mim, este último dado é o mais importante de todos.

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  • A grande família

    Publicado por: • 13 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    Se tem coisa que porto-alegrense gosta é de camarão. A demanda só não é maior porque o preço é alto demais, vocês sabem. O que tem muito é restaurante oferecendo camarão-pigmeu, o camarão onde-estás-que-não-te-vejo?. É o mesmo que mal e mal serve para fazer pastel e empada de camarão. Estou convicto que os pioneiros da nanotecnologia tiveram a ideia depois que comeram um prato de camarão em alguma casa de Porto Alegre.

    Há anos eu gostava muito de uma casa que oferecia fetuccine verde com camarão, que inicialmente apresentava alguns de tamanho razoável. O tempo foi espichando e o crustáceo foi encolhendo. Abro um parênteses para garantir a vocês que camarão fresco NÃO tem cheiro de camarão. E ele é reto, fica curvado não de dor ao ser morto – segundo as cozinheiras – mas porque desincha, perde água. Fecho parênteses.

    Pois um dia eu reclamei para um dos donos da tal casa sobre o tamanho do bicho, e então ele veio com aquela inefável conversinha que os pequenos são mais saborosos bla bla bla. Mentira. Mas prometeu servi-los maiores. Foi uma promessa solene, o Juramento do Camarão. Dias depois conferi o prato e, a partir daquele dia, passei a chama-lo de A Grande Família: um só camarão médio e pelo menos uns oito filhotinhos de camarão.

    É por isso que não acredito na humanidade.

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  • As voltas que o mundo dá

    Publicado por: • 10 jul • Publicado em: Caso do Dia

    A vida tem divisórias e hoje eu cruzei uma delas. Por 12 ou 13 anos fiz parte da equipe de comentaristas do Jornal Gente da Rádio Bandeirantes RS, programa que é o carro-chefe da empresa, pelo menos institucionalmente falando. O convite partiu do falecido diretor Bira Valdez. Eu deveria entrar por telefone, mas aos poucos – sabem o “só um pouquinho?” o Bira me intimou a ser titular diário. O salário era bom.

    Os tempos passaram e a Band mudou. A Rede Bandeirantes começou a enfrentar dificuldades nacional e regionalmente, houve demissões e mais demissões, que ainda não tiveram fim. Como e por que a Band desceu a ladeira eu contarei depois que a poeira baixar.

    Depois do programa de hoje, o diretor Renato Martins me disse sem rodeios que eu estava demitido. Agora, nada de se despedir dos ouvintes no programa de hoje. Pagamento até dia 9, ontem. Adeus, boa sorte, sabes das dificuldades da Band, lamento muito, as perfumarias de praxe. Sim, eu sei que a empresa está com problemas graves, já vinha mal na parada há tempos, tem que demitir mais no Brasil todo.

    Então eu bailei na curva. É do jogo. Sem snif! Agora, o modo como fui demitido…

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  • A tampinha do Tuxo

    Publicado por: • 10 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    O Bira Tuxo foi um rico personagem de Uruguaiana que deu com os costados em Porto Alegre, anos 1960, segunda metade. Tinha pendor por artes plásticas, então fez um estágio com o escultor Vasco Prado e sua mulher Zorávia Bettiol, acho que é assim a grafia.

    O Bira tinha os dentes separados e um pouco de língua presa, de maneiras que seu fraseado era particularmente interessante. O pai dele, também de alcunha Tuxo, tinha um bar em Uruguaiana e consta que falava do mesmo jeito. Certa vez alguém entrou no bar e pediu um bolinho de carne, que estava mofado. Reclamou.

    – Mas não é do mofo que se faz penicilina? – redarguiu.

    Outro causo notável do Tuxo pai envolvia tampinhas de garrafas. Para impressionar a molecada com sua força física, ele espremia – literalmente – a tampinha de metal usando o indicador e o polegar. Ante o olhar de admiração da garotada, ele se abaixava para ficar na altura deles e finalizava a jactância.

    – E ifo que é a maiforte que a companha produf!

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