• O bom ladrão

    Publicado por: • 8 jul • Publicado em: Caso do Dia

    Amigo meu, executivo de proa, usou de ironia para explicar que ladrão também cumpre função social, girando a roda da economia. Um parênteses: em princípio fica claro que é uma ironia, mas hoje se você não bota três pontinhos muita gente acha que é de verdade. Fecha parênteses.

    Um exemplo. Quando um lalau pega um carro na marra, veículo que tenha pedido firme em países vizinhos, ao longo do trajeto ele gasta com postos, restaurantes, oficinas, borracharias etc. Sem falar quando ele vai para a zona, que paga IPTU – mais o extra da grana para o mulherio.

    Vou mais longe na teoria do meu amigo. Mesmo preso, ladrão gera empregos. Não só para agentes penitenciários e policiais, mas para uma série de indústrias paralelas, como a fabricação de grades, algemas, armas e tantos outros.

    Resumindo, a cadeia produtiva do ladrão é extensa pra caramba.

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  • Afogamento etílico

    Publicado por: • 8 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    Há anos, numa galáxia muito distante, quando os celulares ainda engatinhavam e recém tinham saído do formato tijolão para um tamanho mais civilizado, falei para o Marco Aurélio que o problema deles era a fragilidade. Deixou cair, babaus. Negativo, disse o Marco Aurélio, o meu resiste até a uma inundação de uísque.

    – Faz uma semana que deixei cair o meu num copo de uísque. O coitadinho ficou bons dois minutos embaixo da água, quer dizer, do uísque. Abri, tirei a bateria, usei o secador da minha mulher e ele tá firme, falante como nunca.

    O Marco não falou, mas imagino que o coitado do Nokinha tenha sucumbido ao alcoolismo. Imagino que ele nem precisava estar no vibracall, duas horas sem bebida ele entrava no delirium tremens e tremia feito doido.

    A história me marcou, e até a escrevi o causo no site. Alguns anos depois, já com internet nos celulares, falávamos no Jornal Gente da Rádio Bandeirantes sobre os defeitos exasperantes deste equipamento, quando lembrei do afogamento com uísque. E contei o causo.

    Poucas horas depois o Marco Aurélio liga, tristonho.

    – Cara, ri para não chorar.

    – Qual é a bronca?

    – É que meu médico estava ouvindo o programa de vocês e me ligou em seguida. Estava putíssimo da cara, meu. O que eu tive que ouvir dele…

    – Não entendi. Até os espetos do Barranco sabem que gostas de um bom scotch.

    – Sabiam, sabiam – disse ele rindo. – É que eu jurei pro médico que nunca mais beberia destilados. E não bebi mesmo, cortei, só na ceva e em marcha lenta. Ele não quis nem ouvir minha explicação, que foi há anos o acontecido.

    Pôxa, eu fiz tudo isso?

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  • Água mole em pedra dura

    Publicado por: • 6 jul • Publicado em: Caso do Dia

    O universo das entidades empresariais brasileiras de todos os níveis, incluindo o sistema financeiro, dá a impressão que elas não estão se dando conta da contaminação da iniciativa privada no rastro dos recentes escândalos. Mesmo que nada tenham a ver com o rolo, colocam ardilosamente todos no mesmo saco.

    Em suma, está ocorrendo a demonização da iniciativa privada no estilo água mole em pedra dura, batendo sub-repticiamente na tecla de que TODAS as empresas privadas são malvadas e corruptoras. O que falta para as entidades empresariais é o que sobra para seus detratores: ações coordenadas.

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  • Os túneis do Total

    Publicado por: • 6 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    Uma placa comemorativa à mais uma etapa da revitalização de espaços do Centro Cultural do Shopping Total – a recuperação das caldeiras da antiga cervejaria da Brahma – foi descerrada na cantina Famiglia Facin, que fica na entrada de um dos túneis. Esse é um dos orgulhos do chefão do Total, Eduardo Oltramari.

    Nesta ocasião o Oltramari fez questão de salientar que eu sou o pai da reabertura dos túneis. Ele sempre tem dito isso quando acontece algum evento relacionado a eles, o que muito me envaidece. A verdade é que fui mesmo.

    Deu-se assim. Há coisa de 11 anos, quando o Total ainda estava em reformas, o Oltramari me mostrou os túneis soterrados – para quem não sabe, presume-se que eles tenham cerca de 4Km de extensão – dizendo que não sabia o que fazer com eles. Datavam do início do século XX, supõe-se. Eu disse que talvez desse samba. Na mesma hora liguei para Caio Zanotto, presidente da Vinícola Aurora.

    O Caio e eu tínhamos conversado sobre a Aurora abrir uma cave com produtos da Aurora, aquela coisa medieval de archotes etc. Ele achou a ideia sensacional. Na mesma hora liguei para ele, os dois se relincharam, como se diz na Fronteira, o contrato foi fechado.

    Só que a Grande Ceifadora entrou em ação. O meu amigo Caio morreu naquele acidente da TAM em Congonhas e seu sucessor não quis ou não soube levar o assunto adiante. Felizmente, a Famiglia Facin achou que poderia. Estão lá, felizes e satisfeitos, casa sempre cheia.

    Assim foi. E aproveito para dizer que tem muito túnel a ser reaberto. Um dos braços vai quase até a Ramiro Barcelos e outro ruma ao cais, no Guaíba. Há muitas fantasias sobre a serventia dos túneis, inclusive que seriam rota de fuga. Por mim, aplico a lógica da Lâmina de Occam, um frade da Idade Média: quando o problema é complexo, a explicação é a mais simples.

    E a mais simples é: serviam para estocar matéria prima, garrafas de cerveja.

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  • A rua da tortura

    Publicado por: • 3 jul • Publicado em: Caso do Dia

    As montadoras gastam um bocado de dinheiro construindo pistas com diversas situações de piso, chão batido, com costelas, com buracos maiores que os da Petrobras, água na pista para simular aquaplanagem etc. Poderiam economizar se usassem as ruas brasileiras para martirizar os seus produtos.

    Escolhi a minha rua de teste. É a Luiz de Camões, trecho entre a Bento Gonçalves e a Igreja de Santo Antônio do Partenon. Faço esse trajeto todos os dias quando vou para a Bandeirantes. O singular é que ela não tem buracos comuns. Ela tem buracos para cima. O piso de concreto de priscas eras recebeu uma tal quantidade de asfalto mal nivelado ao longo dos anos que ficou um tobogã.

    Você condena seu carro à morte se trafegar a mais de 20 Km/h. Afrouxa até aquele pivô que seu dentista colocou com tanto capricho. Assim que o meu médico de dentes colocou-colou um na lateral direita, virou-se orgulhosamente para mim e falou:

    – Resiste até a terremoto de 9,5 graus na Escala Richter.

    Temerário ele garantir isso. Ao que eu saiba, ele nunca subiu a Luiz de Camões de carro.

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