• O pé esquerdo

    Publicado por: • 1 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    A ditadura do politicamente correto é coisa recente, certo? Não. Nos anos 1960 também era obrigatório ajoelhar nesse altar, inclusive com pontos de contato com o PC de hoje. Na época tudo que era bom, ótimo e genial era só fruto da esquerda, fosse livro, filme ou qualquer outra manifestação cultural e artística.

    De vez em quando alguém dizia que o direitista empedernido Nelson Rodrigues não era lá tão ruim assim, mas sua inclinação à destra anulava o que tinha de bom. Se alguém não gostasse dos filmes-cabeça sem pé nem cabeça era execrado.

    Havia uma solução intermediária para escapar do cutelo ideológico, como dizer “O filme é uma merda, mas o diretor é genial”. Aliás, dizia-se mais “genial” naquela época que “adrenalina” hoje em dia.

    Hoje, conseguimos a proeza de ideologizar até árvores e comidas. O eucalipto é de direita, a figueira é de esquerda; o mocotó é da ultra direta, tomate seco é de esquerda, assim como a comida natureba em geral; bicicleta é de esquerda, carro é de direita. Sei não, mas de repente até o pé direto de uma casa vai ser considerado de esquerda.

    E vocês achando que a Santa Inquisição é coisa do passado.

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  • Quem é o burro aqui?

    Publicado por: • 29 jun • Publicado em: A Vida como ela foi

    O Brasil teve o seu Pedro Bó, um personagem criado por Chico Anísio que fazia as perguntas mais óbvias possíveis. Rapidamente, alguém tapado ou burro recebia a resposta acompanhada de um “Pedro Bó” no início ou fim. Muito tempo antes, no tempo do programa de rádio Balança mas não cai, anos 1950, foi criado também um personagem que irritava com perguntas óbvias.

    Posteriormente veio o Tolerância Zero para perguntas idiotas, interpretado pelo falecido (e excelente) ator Chico Milani. No cotidiano, a toda hora parece algum Pedro Bó. Uma clássica é aquela quando alguém faz uma pergunta tipo “Qual seu nome completo?”, e recebe uma interrogação como resposta: “Quem? Eu?”

    Por isso que a “piada” de português a seguir, não é piada pelo simples motivo que português não é burro, apenas não têm subtexto, e merecia um sonoro Pedro Bó para o perguntante brasileiro.

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    O brasileiro, no terceiro andar de um edifício, em Lisboa, chama o elevador e a porta se abre quase instantaneamente. Aí ele pergunta às pessoas que estão dentro:

    – Está descendo?

    Todos respondem:

    – Não.

    E o brasileiro pergunta

    – Está subindo?

    Todos respondem

    – Não.

    E o brasileiro, já todo afobado:

    – Está o quê?

    Todos respondem

    – Está parado..

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  • A moringa milagrosa.

    Publicado por: • 26 jun • Publicado em: A Vida como ela foi

    Um dos aspectos mais incríveis da nossa cultura de acreditar em Papai Noel e fada madrinha são as lendas urbanas sobre remédios milagrosos que se se espalham na internet. Não acreditamos que o homem foi à Lua, mas acreditamos quando alguém espalha que casca de farelo de arroz misturado com Vick Vaporub fervido com grilos assados em forno de lenha depois polvilhados com açúcar mascavo cura câncer terminal.

    A última moda é comer folhas ou sei lá eu o que da moringa, árvore originária da Ásia e África que existiria no Brasil. Quem pesquisou o poder curativo da moringa foi a Universidade de Addis Abeba, Etiópia, sabidamente uma instituição muito respeitada no mundo inteiro. Os pesquisadores concluíram que, comparada grama por grama com outros produtos, a moringa possui sete vezes mais vitamina C que a laranja, quatro vezes mais vitamina A que a cenoura, quatro vezes mais cálcio que o leite de vaca, três vezes mais ferro que o espinafre e não sei quantas vezes mais potássio que a banana.

    Imagino que o vegetal se pareça com uma vaca alaranjada com pelo de folhas de espinafre, bananas em vez de tetas e com topete verde de cenoura no alto do cocuruto. Depois é só carnear e comer.

    Addis Abeba é muito bom

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  • Confusão serrana

    Publicado por: • 24 jun • Publicado em: A Vida como ela foi

    Nossa roda de cafezinho no Café Chaves, Rua da Praia, discutia alguns enganos tragicômicos. O melhor deles foi contado pelo Grejanim, causo passado nos anos 1980 quando estreou em Porto Alegre o polêmico filme japonês Império dos Sentidos. Não era pornô, apesar das cenas de sexo, na realidade um drama pungente. Mas a fama se espalhou e caravanas do Interior do RS fretavam ônibus para ver o filme.

    O motorista de um desses ônibus, que sabia quase nada de Porto Alegre, seguiu uma cola que lhe deram na cidade de origem, na Serra Gaúcha. Depois de rodar algum tempo, estacionou já de noite na frente de um prédio que estava com as portas fechadas. Esticou a cabeça junto ao para-brisa, olhou o letreiro na fachada e sentenciou.

    – É aqui. Império dos Sentidos.

    Os passageiros ficaram sentados esperando a bilheteria abrir. Passou-se um bom tempo e nada, todas as luzes estavam apagadas e não havia nenhum sinal de povo fazendo fila para comprar entrada. Passada mais de uma hora, um deles saiu e foi conferir. Voltou furioso.

    No letreiro lia-se: Empório dos Tecidos.

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  • Estrategista de motel

    Publicado por: • 22 jun • Publicado em: A Vida como ela foi

    Cinquentão separado, sem filhos, tímido, com círculo restrito de amigos e mais restrito ainda de amigas, relata seu drama para colega de academia.  Ele aparenta frustração. Contou que, sem muito gosto por garotas de programa, caras e sem envolvimento, apenas máquinas de sexo de uma só direção, desenvolveu uma estratégia.

    – Fiz o seguinte, meu chapa. Entrei nos sites do sexo pago e após algumas furadas achei uma que me parecia ser mais sensível para gente como eu. Começamos a sair, 400 pilas mais o motel. Caro, né?

    – Mas eu pensei que não gostavas dessas garotas de programa, são frias e impessoais, concordo.

    – Pois é, essa era igual. Mas eu calculei que depois de meia dúzia de encontros ela se envolveria e até baixaria o preço. Talvez até gostasse de mim, tudo que eu queria.

    – Mal calculado – falou o parceiro, saindo da esteira e enxugando o rosto com a toalha. – Essa de mulher de programa se apaixonar só nos cabarés do passado. Um jantar no Treviso, flores e uma bijuteria barata mas amorosa costumavam abrir largas avenidas.

    – Mas no que deu tua estratégia?

    – Saímos sete ou oito vezes e nunca pechinchei preço. Ficava alegre quando ligava para marcar uma saída. Mandava torpedos dizendo que estava com saudades, quando sairíamos de novo, que eu era muito bom de cama, que ela gostava de homens mais velhos. E eu me entusiasmando.

    O amigo se arrepiou. Eis um cara que aceita nota de 30 reais.

    – Sei que deves estar achando que sou otário, mas te juro que eu via sinceridade nos olhos e no sorriso dela. Um dia, parti para a fase 2 da estratégia. Fiquei duas semanas sem ligar. Ela mandou alguns torpedos, aflita, o que houve meu amor, meu docinho, kisses baby, não me esquece!

    – E? Estou curioso.

    – Três semanas depois ela enviou mensagem dolorida, o que ela tinha feito, por que não queria mais sair? Não faz isso comigo, logo agora que eu estava começando a gostar mesmo de ti. Aí engrenei a fase 3. Respondi que a grana estava curta, era coisa passageira, mas eu não podia pagar os 400 por enquanto. E sabe o que ela respondeu?

    – Diz logo, vivente!

    O estrategista pegou o celular e mostrou a troca de mensagens com destaque para a última. Dizia: “Tá ruim pra todos hehehe. Economiza”.

    O amigo bateu no ombro do outro à guisa de consolo e foi para o chuveiro. Fosse teatro, o “economiza” seria o último ato. E fecha o pano

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