• Os deveres dos pais têm limites

    Publicado por: • 15 jun • Publicado em: Artigos

    *Marco Antonio dos Anjos

    Há alguns dias, a imprensa brasileira noticiou um caso ocorrido nos Estados Unidos e que causou certa perplexidade. Trata-se da situação de um casal residente no estado de Nova York que requereu judicialmente que o filho de 30 anos deixasse a casa.

    O filho, há oito anos, voltou a morar com os pais em razão de ter ficado desempregado, mas não os ajudava nas despesas familiares e sequer colaborava nas tarefas do lar. Após várias notificações para que o filho deixasse a casa, diante da recusa, os genitores fizeram o pedido judicialmente e tiveram decisão favorável.

    Um igual caso, se ocorrido no Brasil, deveria ter a mesma solução. O dever dos pais de sustento, guarda e educação dos filhos vai até o final da menoridade destes, que se dá aos 18 anos. Ao completar essa idade, as pessoas se tornam, no aspecto legal, plenamente capazes para exercerem os atos da vida civil e, consequentemente, não mais se sujeitam ao poder familiar.

    O limite de 18 anos vem sendo flexibilizado judicialmente, alcançando até os 24 anos para filhos que prossigam nos estudos em nível universitário ou curso técnico. A explicação é que, dando continuidade ao processo de educação escolar, o jovem adia o momento de ingressar no mercado de trabalho para fazê-lo, posteriormente, em melhores condições e em profissão que exija nível escolar superior, como Medicina, Engenharia e Direito, ou estudo mais pormenorizado, como os cursos técnicos.

    Vale ressalvar que é possível que pais sejam condenados a prestar auxílio aos filhos maiores, porém, isso exige a demonstração da efetiva causa da necessidade de ajuda como, por exemplo, na hipótese de doença. O mesmo ocorrerá com os filhos em relação aos pais, o que geralmente ocorre na velhice destes.

    Outro aspecto a ser observado é que, sendo os genitores os proprietários ou legítimos possuidores da casa, eles têm o direito de definir quem poderá morar no local. Os filhos não podem exigir ali permanecerem simplesmente por terem vínculo de parentesco.

    Assim, uma pessoa adulta e saudável tem obrigação de obter meios próprios de subsistência, não sendo justificável ter suas despesas providas pelos pais.

    A iniciativa do casal norte-americano causou estranheza porque, em regra, os pais se prontificam a auxiliar os filhos durante toda a vida, mas isso tem como fundamento o afeto, e não exatamente um dever jurídico. No Direito, nem sempre condutas muito reiteradas na sociedade implicam um dever, a explicação para elas não está na lei, mas sim na natureza humana.

    *Marco Antonio dos Anjos, professor de Direito Civil na Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas.

    O especialista está disponível para comentar o assunto. Para acioná-lo basta encaminhar a solicitação para o e-mail: imprensa@mackenzie.br.

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  • Nós e os juros

    Publicado por: • 14 jun • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    O Banco Central americano, Fed, elevou os juros – a Selic deles – pela segunda vez em 2018, entre 1,75% e 2%, e, ao mesmo tempo, anunciou que o custo dos financiamentos subirá quatro vezes este ano. Tudo em nome ou temor de alta na inflação. É uma das coisas mais difíceis de explicar para um cidadão comum, como pode um país cuja economia vai bem colocar obstáculos para crescimento maior.

    A era pré-Real

    Inflação de demanda ou estrutural, essas coisas que nós brasileiros conhecemos tão bem – menos a geração que nasceu poucos anos antes ou depois de 1993, ano do Real – aumentam a dificuldade de entendimento. Consolem-se não só os brasileiros.

    O conhecimento e sua falta

    Essa impossibilidade do homem comum de fazer abstrações explica porque o brasileiro é ruim em matemática. Explica também porque a dificuldade em captar subtextos e o que está a poucos centímetros adiante do seu nariz. É uma condição que vem de longe e envolve a falta não só de leitura, mas a falta de conhecimento e o despreparo escolar.

    Mea culpa

    Esse é o nosso drama, conhecimento. O jornalismo também tem esse pecado, mas isso é papo para outra hora. Tem a ver com a maior qualidade que um repórter precisa ter, e sem ela ele não passará de um mero arrumador de palavrinhas nem sempre bem postas: a curiosidade.

    Cacete!

    Alguém postou no Face que os baianos chamam de cacetinho o pão de 50g, como nós gaúchos. No Rio, há estranheza quando se diz essa palavra. Até o corretor dos computadores não a reconhece. Mas corretor é burro, sabemos todos, menos quem o programou. Baiano não sei, mas gaúcho fala assim porque antigamente esse pão era duro e pequeno, um minicassete.

    Seleção polar

    Copa do Mundo fria como esta nunca vi. Vejo os jornais publicarem cadernos mais gordos que adolescente que se entope de fastfood e me pergunto se financeiramente há retorno ou se trata de tradição na cobertura. O valor Econômico de hoje publica uma matéria falando que as empresas relutam em investir na Copa.

    Custo e benefício

    Também me ocorre o seguinte. Os patrocinadores, ou parte deles, deixaram-se levar pela emoção e não detectaram esse desinteresse, relativo que seja, sobre a Seleção e sua Copa. E também tem aquela montanha de informações inúteis necessárias para fechar a edição ou servir de subsídios para intermináveis papos na TV e rádio. Bem, é o que temos nesse interregno.

    Falta um zebrão

    Escrevi no JC que é bem hora de aparecer uma zebra histórica na Copa da Rússia. Não sei se existe essa possibilidade, porque não sei da qualidade das seleções grandonas e das pouco lembradas, aqueles que ninguém bota uma ficha. Mas que seria bom dar uma sacudida, lá isso seria.

    Ditadura gráfica

    Tentem ler as palavras destacadas com amarelo nos textos da Zero Hora, tentem. E tentem ler blocos de texto com letras brancas em fundo preto sem dar uma paradinha a cada duas ou três linhas. Se conseguir. Vivemos a cultura da prioridade da moldura em vez da prioridade dos textos. Começou com os infográficos.

    Jornal do Comércio

    Leia e assine o JC clicando aqui.

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  • O caderninho do tio Hugo

    Publicado por: • 14 jun • Publicado em: A Vida como ela foi

    Uma das pegadinhas mais cretinas do meu tempo de guri era perguntar para uma pessoa de mais idade qual era a diferença entre um ventilador parado e um homem cansado. É 30, dizíamos em seguida. Um ventilador parado não venta e um homem cansado se senta. Eu avisei, não avisei? Mas há exemplos piores. Telefonávamos para a farmácia e engrossando e voz fazíamos pergunta se tinha éter aberto, no sentido de a granel. Sim, era a resposta.

    – Então fecha, senão evapora!

    Olhando com olhos de hoje, acho que merecíamos prisão quase perpétua. Outra besteirada era apertar na campainha das casas, noite alta, e sair correndo. Recordações são como cenas do passado, cujas brumas o vento da memória dissipa. Caso da “venda” do tio Hugo Orth em Montenegro, armazéns também chamados secos & molhados. Um dia, entrou um molecote correndo e fez o pedido.

    – Seu Hugo, a mãe pediu dois rolos de papel higiênico!

    O dono entregou os rolos e o fedelho saiu correndo. Tio Hugo deu a volta no balcão e botou as mãos em concha para o som alcançar o guri, queria saber dele se era para botar a despesa no caderninho do fiado.

    – É para tomar nota?

    O moleque gritou de volta.

    – Não, é pra limpar o …

    Vocês conhecem a palavra.

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  • A maior felicidade que pode acontecer a um grande homem é ele, cem anos após a sua morte, ainda ter inimigos.

    • Stendhal •

  • Chimarrão à inglesa

    Publicado por: • 13 jun • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Metade do time de Tottenham Hotspurs é viciada no mate, como chamamos o chimarrão gaúcho, bebida que, segundo a prestigiada publicação inglesa The Guardian, dá energia como o café, bom para a saúde como o chá e libera endorfinas como o chocolate. Só que o Rio Grande do Sul não entrou na história. A publicação explica que o mate é a bebida nacional da Argentina, o que é fato. Mas também é a bebida oficial dos gaúchos – em termos, pelo menos a não-alcoólica. Leia a matéria: aqui.

    Vale a pena?

    Os enormes esforços dos jornais em publicar cadernos massudos sobre a Copa do Mundo e a montagem de grandes equipes para trabalhar na Rússia contrasta com o baixo interesse popular sobre a Seleção. Em outras épocas, saberíamos de cor e salteado a escalação do time. Agora o que se observa é apatia.

    Ideologia

    Em décadas anteriores, anos 70, a Copa servia até como debate ideológico. A esquerda torcia pela derrota da nossa Seleção para deixar o povo irritado. E ficava triste quando a taça era levantada. Besteira pura.

    Custo-benefício

    Tudo isso, e considerando-se a quantidade de jornalistas empregados pelos veículos para cobrir o futebol, fica no ar uma inquietante pergunta cuja resposta muitos de nós já sabemos: haveria um descompasso entre a cobertura e o interesse do leitor/ouvinte/telespectador? O que salta aos olhos é que este esporte está superdimensionado na mídia e na infraestrutura, inclusive nos salários dos jogadores.

    Intervalo gastronômico

    Foi uma grata surpresa conhecer – e saborear – o bufê do restaurante do City Hotel, no Centro Histórico de Porto Alegre, que tem no comando minha amiga Eleonora Rizzo. Tudo que lá estava à disposição era muito bom, especialmente a massa, que ontem foi fetuccine com molho misto. E com um detalhe: os medalhões de filé eram de filé mesmo, coisa difícil de se encontrar no Centro. E nas sextas, a casa oferece sua tradicional feijoada.

    O ET de Varginha

    Da turma que curte aliens e Ovnis: Na madrugada de 20 de janeiro de 1996, uma nave alienígena foi detectada por radares e vista por moradores de Varginha (MG) acidentando-se nos arredores da cidade. Em poucas horas, o Exército já havia cercado a área, recuperado os destroços e capturado dois tripulantes ainda vivos, tudo em segredo, retirando-os do sul de Minas Gerais. Apesar de dezenas de testemunhas de tudo isso, uma “operação abafa” foi criada pelos militares e perdura até hoje para que não se saiba desta realidade, mas isso está para acabar.

    Direitos alienígenas

    Lembro do caso do ET de Varginha – ou a lenda – mas não essa do Exército ter capturado ETs vivos. Vamos lá fazer a famosa reflexão: vocês já ouviram falar no Brasil de um segredo quando tem mais de duas pessoas envolvidas? Um ou mais militares já teriam vendido fotos e vídeos ou filmes para a imprensa internacional. E certamente os ETs teriam entrado com ação por dano moral.

    Alfabetização de adultos

    reunião de avaliação

    Técnicos do Programa de Alfabetização de Adultos do SENAR-RS reuniram-se ontem para a primeira avaliação de trabalho do ano. A proposta é avaliar os primeiros 60 dias de andamento do programa criado pela instituição para atender produtores e trabalhadores rurais que não tiveram oportunidade de concluir seus estudos. Em 2018, 1,5 mil trabalhadores rurais estão participando, com aulas de alfabetização em 60 municípios gaúchos junto com a parceria dos Sindicatos Rurais locais.

    Desabafo

    …de um policial federal:

    “O cara é líder de facção criminosa. Partiu dele a ideia de começar a cortar cabeças de rivais (em Porto Alegre, N.R.). É suspeito de envolvimento em ONZE homicídios. Sábado ele recebeu o benefício da tornozeleira eletrônica e cumpriria prisão domiciliar. TRINTA E NOVE MINUTOS depois, ele rompe a tornozeleira e se encontra na cara condição de foragido. Imagina a sensação terrível que passa na cabeça da população ao saber disso. Agora multiplica por quatro milhões e tu chega no que pensa quem arriscou a vida pra colocá-lo lá e vai arriscar de novo pra fazer a mesma coisa”.

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