• O diário do sapato

    Publicado por: • 11 fev • Publicado em: A Vida como ela foi

    Olhe para os pés das ruas. Tirando executivos e deputados, ninguém mais usa sapato. E sapato italiano ou cromo alemão só para quem tem dinheiro. É só sapatênis ou tênis. Vai longe o tempo em que engraxávamos nossos sapatos a ponto de ficarem reluzentes, quase um espelho. E também terminaram os calçados bons, realmente bons, os que não deformavam depois de dias e dias de chuva. Por isso engraxates começam a sumir, passou o tempo deles por falta de clientes. A gurizada nem pensar.

    Nos meus verdes anos, havia duas marcas de sapatos mais esportivos de primeira linha e um com formato clássico, que podia tanto ser batido no dia a dia ou usado em bailes e recepções, o Clark. Os esportivos eram o Terra e o Samello, os dois de São Paulo. A indústria gaúcha não tinha e ainda não tem produtos que se comparem com estes três. Havia fã clubes, inclusive, uns gostavam mais do Samello, que era meu caso. Era mais para mocassim.

    Naqueles tempos, como dizia Jesus, o presidente de um banco estatal contava para quem quisesse ouvir que ele tinha uma coleção de sapatos, dúzias deles. Até aí tudo normal, mas ele deu uma de caprichosos de Pilares. Em cada par ele colocava uma espécie de diário na primeira pessoa. “Fui usado pela última vez no domingo tal” e descrevia as condições do tempo que o sapato enfrentou. Também colocava o dia mês ano e hora em que foi comprado, a loja e o preço, e se tinha algum defeito ou se já tinha visitado o sapateiro e por qual motivo.

    Isso sim que era diário. Ou folha corrida.

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  • A grande verdade

    Publicado por: • 11 fev • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Nascemos e morremos clientes, desde que a maternidade até o cemitério. Quem assim o diz é Tomás Duarte co-fundador e CEO da Track, startup que monitora e gerencia indicadores de experiência de clientes em tempo real por meio de canais digitais. Eu só faria um adendo: mesmo depois do cemitério a conta da morte continua a chegar sob forma da anuidade da gaveta ou do túmulo.

    ENTERRO PROVISÓRIO

    Nem sempre ficam enterrados, se você – você não, você já é puro osso com restos de terno e sapato novo – caso sua família não tome os devidos providenciamentos junto ao cemitério, como dizia Odorico Paraguaçu. Uma coisa que sempre me intriga? Por que diabos defunto precisa de sapatos novos? Não era melhor os mais velhos, para tirar mais essa despesa da cacunda dos vivos?

    PREGUIÇA NA CRIAÇÃO

    TV brasileira faz novelas desde meados dos anos 1950 e ainda não consegue mudar o eterno escutar conversa comprometedora atrás da porta. E também consegue ouvir em segundos o que a pessoa do outro lado do telefone leva um minuto para dizer.

    UMA CRISE ANUNCIADA

    PT em crise, sem norte e sem quadros. É o assunto do momento, A Veja abriu mais o leque e bota toda a esquerda na bronca, o que parece correto. A Folha de São Paulo publicou entrevista com – ex-senador Aloísio Mercadante, Tarso Genro também andou falando sobre os desvios do PT ao longo dos últimos anos. Pelo que lembro, o único petista ilustre que criticava o governo Lula por ter feito concessões para a “direita” – com aspas, porque para a esquerda brasileiro tudo que não é esquerda, é direita. E radical. O centro foi extinto.

    HERANÇA MALDITA

    A esquerda não sabe fazer autocrítica porque ela não sabe o que é isso. Herança de 1917 e do império soviético. Mesma coisa com as viúvas de 17, que insistem que não tem nada a ver com o comunismo. Essa palavra é maldita e não foi à toa que Antonio Gramsci escreveu “nunca deixem eles chamar vocês de comunistas”. O italiano é guru do PT desde 1993.

    EU SEI TUDO

    O marxismo é a única filosofia que tem explicação para tudo, inclusive para unha encravada. Daí que não erra. E seus descendentes também não erram. Portanto, é a realidade que está errada. Ou os históricos fundam um novo partido ou vão para o fundo da baia com Lula & Cia.

    A EXCEÇÃO

    O único partido fiel ao seu programa e que desanca o PT quando pode e desanca duro, é o PSTU. Pode estar fora do jogo, mas é lúcido nas abordagens que faz dos governos petistas. E não é de hoje. Inclusive sentou o sarrafo do documentário Democracia em Vertigem em nota oficial da direção nacional da sigla.

    DIVINO PINCEL

    Quando te chamam de Senhor, uma maneira de chamar de tio, e moda responder que “o Senhor mora lá em cima”. Pelo que consta, só desceu uma vez e se arrependeu. Não só usaram e ainda usam seu santo nome em vão como ainda o crucificaram. Como um engenheiro que não gostou nada do seu projeto, nos deixou no pincel divino.

    PENSAMENTO DO DIAS

    O calor é tanto que até cavalo parado sua.

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  • Ela nasceu/Com o destino da Lua/Quem vive pra todos na rua/Não vai viver só pra mim.

    • Adelino Moreira •

  • A gravata francesa

    Publicado por: • 10 fev • Publicado em: A Vida como ela foi

    Uma gravata francesa Hermès por um carro nacional, que tal essa? Walter Seabra, que redescobriu as Ruínas de São Miguel, que tinha virado tapera nos anos 1970, era uma figura excepcional. Nos últimos anos de vida, foi diretor da Rede Plaza de Hotéis e foi nessa condição que aceitou a carona do doutor Jorge.

    Seabrinha, como era conhecido, estava saindo do Plaza São Rafael indo para casa quando o doutor lhe ofereceu uma carona no seu carro blindado. Lá pelas tantas, ele se virou para o carona, que estava uma fina gravata francesa Hermès.

    – Seabra, que gravata bonita!

    Quando chegou em casa, o diretor do Plaza se viu na obrigação de fazer uma gentileza para o amigo. Acondicionou a gravata em fino estojo e a enviou para a casa do doutor.

    Meses depois, a cena se repetiu. Na saída do hotel, o doutor Jorge ofereceu uma carona. No trajeto para casa, os papéis se inverteram.

    – Jorge, que carro bonito!

    Resumo da história, sem gravata, nem carro.

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  • A criação dos especialistas

    Publicado por: • 10 fev • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Quando Deus criou o homem do barro e da costela dele fez a mulher, achou melhor criar os especialistas em seguida, para orientá-lo nas suas criações. A primeira coisa que o primeiro deles falou, um cientista social, foi dizer que a falta de uma costela levaria à futuros complexos de inferioridade. Assim que veio à luz, um outro, um estatístico, garantiu que a humanidade era exatamente 50% de homens e 50% de mulheres. O terceiro, um economista, alvitrou que haveria 100% de chance de o casal ter filhos.

    Duvidando das contas do colega, o último especialista, um advogado, entrou com liminar para suspender qualquer outra criação enquanto se antes discutir a constitucionalidade dos atos do Criador. No meio do entrevero, todos eles fizeram uma pausa para discutir a proposta do cientista social em criar uma associação, primeiro passo para formalizar um sindicato. Também sugeriu que ele se filiasse logo à CUT.

    Quando estavam todos de acordo com a ideia veio uma dúvida: como eles foram criados por um ente superior, o Estado, a rigor, por suposto, disse o cientista social, todos eles seriam funcionários públicos, então teriam que ter um plano de carreira, quinquênios, licenças-prêmios, direito à greve e jornada semanal de 40 horas com duas horas extras incorporadas aos vencimentos. Aprovado por unanimidade. Elaboraram uma minuta, transformada em ofício e enviada para o Pai de Todos.

    Ele recebeu o documento, leu, releu e, no final, deu um suspiro de desânimo. Falando mais para ele mesmo, resumiu a situação.

    – Adão já foi um erro…

    POR UM “I”

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    Pangolim, uma espécie de tatu com grandes escamas, o mais recente bode expiatório do coronavírus por ele ser hospedeiro do bichinho, se presta a duplos sentidos tão a gosto pelos brasileiros. Na região da colonização italiana, se tirarem o A e colocarem um I, por exemplo. Na gíria significa pênis.

    O FUTEBOL ERA DO POVO

    A maneira dos jovens, residentes em Porto Alegre e torcedores da dupla Gre-Nal, consumirem o futebol mudou, consideravelmente, após a modernização dos estádios devido à Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil. Os valores atuais dos ingressos são determinantes para o afastamento de uma parte das torcidas dos clubes como Grêmio e Internacional.

    É o que indica o levantamento desenvolvido pelo Projeto de Pesquisa de Mercado em Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos da PUCRS. O estudo foi realizado com pessoas na faixa etária de 18 a 30 anos.

    PENSAMENTO DO DIAS

    A vida é dura para quem é mole.

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