Saudade do Tupy

16 mar • A Vida como ela foiNenhum comentário em Saudade do Tupy

Nos meus tempos de criança em São Vendelino, eu odiava foguetes e tudo que fizesse barulho, tiros e assemelhados. A vila ficava a um quilômetro da nossa casa em estrada de chão batido, talvez 600 ou 700 metros em linha reta. Em dias festivos, como festa de igreja ou kerb, malucos detonavam um negócio que em alemão de chamava de katzekopft, algo como cabeça de gato.

Consistia em um tubo oco de ferro fundido fechado numa ponta. Então socavam pólvora e papel, botavam o artefato na parte alta do potreiro ao Lado da igreja. Bem na hora da Consagração, um idiota botava uma mecha acesa na ponta de uma longa taquara e BUM,  três vez mais alto. Um tiro de canhão.

Rapaz, aquilo ecoava pelo vale ganhando volume. Nesses dias, eu me recusava a ir à missa. Pegava meu fiel cachorrinho Tupy e íamos para um remanso coberto de árvores de copas baixas no Arroio Forromeco, esperando o tormento passar. Idiotas. A copada ajudava a abafar o som, como uma surdina da natureza.

O que eu sinto falta é do Tupy, da densa vegetação e do Arroio Forromeco. As árvores abafariam o som das bombas e dos mísseis russos explodindo hospitais e maternidades.

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Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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