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O riso de Deus
Interessa menos o resultado da votação sobre o acatamento ou não da renúncia contra Michel Temer do que o abissal desinteresse da maioria silenciosa sobre o que se passa no Congresso Nacional. O que lá correu, e corre, merece a atenção apenas de uma pequena parcela da população, o que o deputado Magalhães Pinto chamava de O Grande Diretório Nacional, jornalistas entre outros integrantes.
No mais, o que lá rola merece apenas os comentários usuais em que aparecem expressões focadas em “bando de ladrões” e variações sobre o tema, como se fosse um comentário usual sobre o clima. Por mais que a gente enfatize que, sem política, nenhuma sociedade sobrevive, pelo menos em uma democracia, o povão não está nem aí.
O sentimento geral é de apatia, um conformismo irritado, salvo militantes e sindicalistas fazendo barulho nas ruas em pequena escala, até agora, resta o silêncio. Até quando não se sabe, vai depender da economia e dos pilas no bolso do consumidor. Porém, e sempre tem um, é prudente botar algumas fichas no imponderável. Como diz um provérbio iídiche, o homem planeja e Deus ri.
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Quando as formigas caminhavam em pé
As mais de 12,5 mil espécies de formigas existem na Terra há mais de 100 milhões de anos, nem sempre foram pequeninas e caminhavam de quatro. No início, elas eram altas, quase do tamanho de um homem atual e caminhavam como nós, eretas. O problema é que, além das antenas, elas ainda usavam as duas patas para gesticular. Então era uma balbúrdia geral. Se com dois braços o gesticular sem controle já alvoroça um ambiente, como fazem os italianos, imaginem quatro extensões do corpo “falando” ao mesmo tempo. Sem falar nas sapateadas com as patas-pés traseiras. O resultado é que a construção dos formigueiros era caótico, eles desabavam com qualquer ventinho, ninguém pegava junto por causa dessa Torre de Babel corporal. E na hora de colher alimentos, cada um era por si, que se estrepasse o coletivo.
As rainhas – sim, não só abelhas têm rainhas – começaram a ficar preocupadas. A população diminuía porque, sem alimentos, as formigas morriam de fome, guerreavam umas com as outras e eram promíscuas com outras espécies. As doenças sexualmente transmissíveis fugiram do controle. Então, as rainhas de todas as espécies fizeram uma assembleia geral extraordinária para definir o futuro.
Levou tempo, mas elas conseguiram modificar o DNA das súditas. Graças à sua inteligência, passaram a gerar filhos cada vez menores, mas em número cada vez maior; ao cabo de poucos milhões de anos, estes insetos diminuíram de tamanho, começaram a caminhar de quatro e deixavam de gesticular porque usavam as mãos como patas. Como uma espécie entrou com liminar e, para ceder um pouco à pressão, elas aprimoraram a função das antenas, que passaram a detectar odores enquanto o ventre das agora quadrúpedes deixavam rastros odoríferos enquanto caminhavam.
Com isso, deixaram de pensar individualmente, passaram a pensar no coletivo e funcionar como se fossem um corpo só, como hoje, vivendo em frestas ou longe do alcance dos maus humanos. Sem essa competição entre indivíduos, os formigueiros ficaram sólidos, imunes às intempéries. Qualquer estrago era prontamente corrigido pela equipe de Controle de Danos. Para evitar que todas as 12,5 mil espécies guerreassem por comida, as rainhas dividiram as espécies entre veganas e carnívoras.
E assim viverão felizes para sempre. E herdarão a Terra.
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Todo o enigma de uma vida está fechado na cabeça de uma formiga.
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Inversão
Mais duas Faculdades de Medicina foram criadas no RS. Em breve teremos mais médicos que pacientes. Vão disputá-los com unhas e dentes.
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Avenida Farrapos dos anos 1950
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Ontem e hoje
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Donativos
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Banquete de mendigos
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