• As damas do cabaré

    Publicado por: • 11 maio • Publicado em: Notas

       A propósito de A Vida como Ela Foi de ontem, as Donas da Noite, o leitor Luiz Fernando Araújo Ehlers estendeu a parte em que falo sobre casamentos até felizes entre as mulheres dos cabarés, dos anos 1960, em Porto Alegre, e fregueses que por elas se apaixonaram. Só que, não raro, a diferença cultural era brutal. Então, o gajo tinha que aturar por estar apaixonado.

    Lençóis científicos

       Ele lembra o caso de um pecuarista da Fronteira Oeste que se casou de papel passado com uma percanta, e montou um apartamento para ela lá para os lados do Ipergs, um conjunto isolado quase lindeiro ao Guaíba. Daqueles construídos para se esconder mesmo. Em dias de chuva, ela se queixava que “os sapos não paravam de latir” e que só usava lençóis “Cientista” porque eram os melhores. A marca era SANTISTA. Resumo do causo: só o amor salva.

    Fomento e captação “na veia”

       O BRDE e a Agência de Desenvolvimento do Alto Uruguai  – ADAU promovem até hoje (11), em Erechim, projeto inédito de cooperação técnica. “Estamos trabalhando fomento e captação de recursos ao mesmo tempo, com base no planejamento regional definido comunitariamente, de forma participativa e com envolvimento de agentes públicos, privados e sociedade civil”, conta o diretor de Planejamento e Financeiro do banco, Luiz Corrêa Noronha. No encontro, para cada projeto identificado como estratégico para a região, o BRDE aponta uma alternativa de financiamento, seja com recursos de fontes nacionais ou internacionais.

    Adeus, meu banco

       Desde o dia 10, o Itaú assumiu – de papel passado – o Citibank, aquisição feita e anunciada há mais de ano. Eu sou – era – cliente do Citi e sempre nos demos bem. Isso desde a década de 1970. Tomara que o Itaú segure o bastão.

    O cheque do seu Ivo

       Quando trabalhei na falecida Folha da Manhã, a Caldas Júnior pagava por quinzena; a primeira cash e a segunda depositada no Citibank. Coisas de Breno Caldas. Na época, os cheques não eram padronizados como hoje. Os do Citi eram mais estreitos e o talão vinha com 50 folhas. Eu nunca botava o saldo no canhoto, e resultou que um dia o fiz e gelei: há horas eu estava no vermelho.

    O susto sem saldo

       Fui direto e quase chorando ao gerente, Ivo Tonin. Tartamudeei uma explicação cretina, seu Ivo desculpa, isso e aquilo blá blá blá. Ele ficou surpreso. Falou que o Citi não devolvia cheque. Acolhia os sem fundo e cobrava um juro normal, nada como os de hoje. Quer dizer o seguinte: antes da instituição cheque especial, o Citi já tinha o seu, e zero burocracia, nada de contrato e assinaturas – apenas pagava.

    Imagem: Freepik

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  • Baile de cobra

    Publicado por: • 10 maio • Publicado em: Caso do Dia, Notas

       Joaquim Barbosa ganhou mais manchetes desistindo de se candidatar à Presidência da República do que quando, lá atrás, anunciou que seria candidato. Na realidade, é aquela coisa de sempre. Um ex-ministro do Supremo se transforma imediatamente em semideus quando se destaca em algum julgamento e vira Deus quando fala grosso contra a corrupção e outras mazelas brasileiras. Mas entrar em baile de cobra sem perneira é brabo.

    Um erro bem brasileiro

       Infeliz da nação que precisa de heróis, ensinava o dramaturgo alemão Bertolt Brecht. E olha que ele flertou, namorou e casou com a esquerda europeia no seu tempo, esquerda mesmo. Era marxista ou perto disso. É uma das antessalas de escolhas malfeitas, escolher alguém como salvador da pátria por algumas manifestações pontuais. Joaquim Barbosa pode ser um bom homem e foi bom ministro, mas daí para pilotar essa locomotiva desgovernada vai uma distância grande.

    O homem do meio

    O famoso mercado o via como uma alternativa razoável, principalmente porque em julgamentos e entrevistas dava a entender que entendia o modo como a economia funciona, algo que a esquerda em geral entende lhufas. Também, depois do desastre soviético e do fracasso cubano em pelo menos dar renda ao povo, não sobrou nenhum espelho ileso.

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  • As donas da noite (*)

    Publicado por: • 10 maio • Publicado em: A Vida como ela foi

      A maior parte dos cabarés dos anos 1960 tinham nomes de mulheres, que vinham a ser as donas do negócio. Em Porto Alegre, os mais famosos eram a Lygia, a Dorinha, a Soninha, a Marlene, a Miriam. As moças de vida airosa topavam um namoro e até uma paixão, se você tivesse plena consciência que o Ponto G das mulheres é no ouvido.

      Quando eram casas de segunda, geralmente era da cultura da camisa de “fisga comprada em sumercado”, como diz o povão, a Casa da Gorda ou da Marvina, coisas assim. Casa que se prezasse tinha sempre uma pista de dança, discos (LP) em boa quantidade. Às vezes, um cantor ou show mais intimista. Bebia-se Cuba Libre, cerveja, uísque, mas nada de cachaça, Deus m’o livre. Cachaça só na Marvina ou na Gorda. Aí já era terceiro time.

      As madames faziam questão de cuidar da saúde física e mental das garotas, que nem sempre eram tão garotas assim. Essa coisa de 18 anos não existia, salvo como exceção. Na maior parte, eram mulheres acima dos 26/27 anos e não raro, adentradas nos 30. As donas compravam briga com fregueses inoportunos ou violentos – esses apanhavam como cães de rua sarnentos – mas quando era o gigolô, então, não tinha jeito. Recebia conselhos tipo “larga esse bosta!”, “ele quer te estragar|”. Mas nós sabemos como funciona o amor bandido.

      Uma outra atividade das proprietárias dos cabarés era arrumar um marido ou amante rico para suas filhas – assim eram chamadas – e vi muita mulher da vida casar com amigos meus e serem felizes para sempre. Estavam fartas de fingir amor, prazer e rir risos sem alegria. Conheci várias, algumas tinham cultura acima da média, apreciavam música erudita e literatura.

      Tudo isso se foi. Pelo menos em qualidade.

    (*) O título remete a um programa de música da antiga Rádio Guaíba, Varig, a Dona da Noite. Isso no tempo que a Varig tinha talheres de prata no serviço de bordo.

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  • Quando o homem ainda vivia nas árvores, todos tinham o rabo preso.

    • F. A. •

  • Os esquecidos

    Publicado por: • 9 maio • Publicado em: Caso do Dia

       Tem lista de melhores bares, melhores restaurantes, melhores choperias, melhores galeterias, melhores churrascarias, mas não de melhores garçons. No meu entendimento, um estabelecimento não pode ser dissociado dos homens da bandeja e, nos antigamentes, da gravata borboleta.

       Meu amigo de longa data Bento Silveira, quando ainda se podia respirar em Porto Alegre, escreveu este belo texto sobre estes anônimos profissionais. Curta e depois me diga se é bom ou não é.

    Uma mesa de bar

    Quantas vezes sentei à mesa de um bar, não sei, não me preocupei em contar, mas que foram milhares foram, e em quase todas consegui ter alguém especial a me fazer companhia, mesmo que por poucos minutos. Saborear as besteiras, as mentiras, as estórias que faziam parte permanente entre os convivas, umas que lhes doíam, outras que os faziam felizes, mas eram narradas naquela mesa para quem quisesse ouvi-las.

    Das mais diversas classes sociais, eram todos iguais naquele lugar sagrado do aperitivo do meio-dia ou final da tarde, com seus lugares quase sempre pré-determinados e obedecidos religiosamente, numa demonstração de profundo respeito pelos pares.

    Não são diferentes em lugar nenhum do mundo. São apenas amigos que não sabem falar sem umedecer os lábios para narrar suas mais diversas e fantásticas experiências de vida, são os mais generosos e incrivelmente soberbos em sua irresponsabilidade, como ninguém.

    Não é efeito do que bebem, são feitos para fazerem parte de nossas estórias como nossos poetas até hoje fizeram, e que outros farão, trazendo, além da boemia, a alegria de embalar nossos mais diversos sonhos e amores.

    Na mesa deles, é proibido discutir política, futebol e religião, com exceção de alguns comentários sempre respeitosos e algumas vezes sarcásticos, não podendo nunca alterar o momento sublime de beberem juntos.

    Não se pode imaginar o mundo sem eles. Onde colocaríamos todas as mesas vazias, as cadeiras surradas pelas bundas embriagadas, os copos, que inteiros já são poucos e vazios quase todos. Os garçons como viveriam, como  tirariam seu sustento e as gorjetas que são de dez por cento até a segunda dose, depois nunca se sabe, podem surpreender de tão gordas.

    E as garrafas? Não são pet, são quase todas de vidro. Onde as colocaríamos sem prejudicar o meio ambiente? Pois elas não desaparecem, ficam eternamente em algum lugar, inteiras ou trituradas até virarem pó, mas permanecem. Acho que acontece para que ninguém esqueça de quem mais as utilizou, eles.

    E quando o mundo de fato acabar, haverá um encontro em algum lugar especial, onde todos estarão com as mãos entrelaçadas transbordando carinho, rindo a toa pela copa franca e contando suas inesquecíveis e bêbadas besteiras.

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