• Distrito Erótico da Cristóvão (II)

    Publicado por: • 18 out • Publicado em: A Vida como ela foi

    Na edição de ontem, tratei das casas noturnas do início da rua Cristóvão Colombo, nos belos anos 1970. Comentei sobre a primeira uisqueria de Porto Alegre, o George’s. Pouco adiante, havia o belo bar Carcará, que depois se transformou em casa noturna, comprada que foi pelo bajeense Waldemar. Já comentei que, naquela década, a bebida nacional era o uísque. Fosse hoje todo mundo estranharia, para dizer o mínimo, porque se bebia como aperitivo antes do almoço, no final da tarde e à noite, no lar ou no bar. Ou em ambos.

    Como outras casas do ramo, no Waldemar era comum os clientes mais assíduos pagarem a garrafa inteira que era deixava sob a guarda do dono, o Waldemar, no caso. O sujeito ia lá paquerar a mulherada ou só para conversar com amigos nesta modalidade, em vez de pagar por dose. Para ter certeza de que o freguês não desconfiasse, as garrafas tinham os marcadores de doses, em geral 24 ou até mais. A dose internacional é convencionada em 50 onças, ou 18 doses em um litro.

    Funcionava assim. O sujeito ia lá e pedia sua garrafa pré-paga – para os mais assíduos, pós-paga – e ao sair marcava um sinal com caneta onde parou de beber. Sempre havia essa coisa de amnésia alcoólica, mas no geral funcionava. Tecnicamente, não tinha erro.

    Abro aqui um parêntesis para falar das bolachas de chope: por que no Brasil a cada copo vem uma bolacha em vez de adotar o sistema alemão? Conto amanhã como funciona.

     

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  • Caldeira vazia

    Publicado por: • 17 out • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Não sei se o povaréu está com se sensação de páreo já corrido, mas estou estranhando a água morna que precede a eleição que definirá o futuro do Brasil. Pelo menos aqui no Sul. Tudo tão xoxo. Claro que há debates na TV e entidades e rodas discutindo, mas não paira no ar aquela eletricidade de eleições passadas, ainda mais de tanta importância.

    Lá em cima?

    Está uma zoeira. O irmão de Ciro Gomes, o ex-governador cearense Cid Gomes (PDT) criticou o PT e falou numa manifestação que, por falta de autocrítica, o PT perderia a eleição. Seu Cid, por falta de autocrítica a esquerda mundial se estrepa e não é de hoje. Olhem só o desastre soviético e os desastres latinos.

    Os certinhos I

    Vem do marxismo. A fruta não cai longe do pé. O marxismo é a única filosofia que tem explicação para tudo, mesmo para linha encravada, mas não admite que é passível de erros. Então, como são semelhantes o marxismo e o catolicismo.

    Os certinhos II

    De um lado, temos essa infalibilidade filosófica: do lado do Vaticano, temos a infalibilidade do Papa. Em ambos os casos, é dogma, não permite discussão.

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  • O lobo pode perder seus dentes, porém jamais sua natureza.

    • Provérbio romeno •

  • Usos & Costumes

    Publicado por: • 17 out • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    A feijoada

    São poucos os restaurantes que mantêm feijoada durante o ano inteiro, e os dos hotéis têm data para começar e acabar. Nós gaúchos somos estranhos em alguns conceitos. Ah, feijoada só no inverno. Cada um, cada um, mas as melhores feijoadas que desfrutei foram as do Copacabana Palace, que funciona a milhão até no verão.

    E a “feijoada”

    Em algumas casas servem uma feijoada entre aspas, tão aguada que dá para comer de canudinho. É interessante como o consumidor define esse prato. O feijão propriamente dito pode ser água, mas tendo couve, laranja e farofa, ele aplaude.

    Sugar Daddy, mas pode me chamar…

    Todos já devem ter ouvido falar nessa figura, moda criada nos Estados Unidos e importada pelo Brasil como se fosse grandes coisa. Tecnicamente, Sugar Daddy é o homem que banca financeiramente suas parceiras (os). O estilo do relacionamento é polêmico, porém, é uma realidade do mercado de aplicativos de paquera. A plataforma do Universo Sugar é uma das que mais cresce.

    …de coronel

    Há uma multidão de mulheres de todas as idades que procuram esse tipo de paizão açucarado como garimpeiro procura ouro. O objetivo é o mesmo, literalmente. Em décadas passadas não tinha essa de daddy, as moças de vida airada chamavam os clientes de “paizinho”. Mas quem as sustentava por tempo mais longo era chamado simplesmente de coronel. Geralmente, homens com muito dinheiro e mais velhos, bem mais velhos que buscavam a teúda e manteúda do Odorico Paraguassu da novela.

    O tempora, o mores

    Quer dizer o seguinte: palavras novas para definir coisas antigas. O que mudou foi o que, no mercado, chama-se de agregar valor. Ou seja, começando por sofisticar a relação já pelo pomposo nome em inglês. E com plataformas virtuais, a coisa parece até algo razoável, desde que não se diga com todas as letras que é coronelismo sexual. Ó tempos, ó costumes, na tradução da frase de Cícero.

    Tudo tão estranho

    Eu só queria saber por que alguém que me chama de alemão fdp não pode ser processado, mas se eu falar isso de alguma minoria vou em cana direto?

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  • Distrito Erótico da Cristóvão (I)

    Publicado por: • 17 out • Publicado em: A Vida como ela foi

    A primeira quadra (curta) da rua Cristóvão Colombo, que começa na rua Barros Cassal, chegou a ter quatro casas noturnas nos anos 1970. Quem vem no sentido bairro-centro, à direita se deparava com a primeira uisqueria de Porto Alegre, o George’s Bar, inaugurada na segunda metade dos anos 1960. Foi lá que tive um namoro platônico com o caríssimo Chivas Royal Salute, de tão caro que era. Vinha em uma fina caixa forrada de veludo preto.

    Para se ter uma ideia, o litro desse whisky custa hoje mais de R$ 1 mil no Mercado Livre. Na época, com o dólar nas alturas, era bem mais. Arrisco R$ 5 mil em preço de hoje. Saboreei algumas doses em gentil oferecimento do Major Pedro Olímpio Pìres, lá do Alegrete. Até ele que tinha mais de 110 quadras de campo teve que esvaziar guaiaca e meia.

    No mesmo lado esquerdo, pouco adiante, ficava o Carcará, do jogador de futebol Cará, do Cruzeiro F.C., e do seu amigo Serginho. O nome veio da música cantada por Maria Bethânia, que, por sua vez, foi assim batizada por causa de uma música com esse nome cantada por Nelson Gonçalves.

    Pois o Carcará foi vendido para um bajeense chamado Waldemar, e então se transformou em casa noturna de fato. Do outro lado da rua, ficavam em sequência a Nega Teresa, o Isidoro e, mais para o posto de combustíveis na esquina com a Alberto Bins, quedava o Sans Chiqué.

    Deles falarei amanhã.

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