• O ciclista que pegou fogo

    Publicado por: • 24 out • Publicado em: A Vida como ela foi

    Já contei aqui que ninguém passa pelo jornalismo incólume. Em algum momento ou momentos, a gente vacila e não faz a coisa certa. Mas não serei só eu no Dia do Juízo Final, não senhor. O meu primo Rui Pedro Selbach, titular do Cartório de Notas de Três Coroas, vai ser chamado para se explicar. Ele me causou um dano terrível. O horror, o horror que foi naquela fatídica manhã no início dos anos 1950 em São Vendelino, onde nasci. Para resumir, ele me ateou fogo, acreditam?

    Conto o causo como o causo foi. Pedalávamos nossas bicicletas rumo ao Grupo Escolar quando atravessamos uma pequena ponte. Ao lado, frondosos arbustos carregados de frutas vermelhas eram empurrados pelo vento. O Rui então desceu da bike.

    – Primo, quem sabe vamos comer algumas pitangas?

    Não precisou falar duas vezes, porque é a fruta da minha infância. Subi no selim para alcançar as frutas e, de imediato, enfiei um punhado na boca. Foi assim que meu primo me incendiou.

    Era pimenta.

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  • Besteiras

    Publicado por: • 23 out • Publicado em: Caso do Dia

    Um dos filhos de Jair Bolsonaro anda dizendo tanta tolice perigosa que o pai deveria colar uma fita crepe na boca do rapaz.

    Controle de danos

    Hoje deve sair pelo menos uma pesquisa dos institutos Ibope e Datafolha. Por ela, poderemos ter uma ideia se os torpedos da gurizada Bolsonaro atingiram ou não o casco da nau capitânea.

    Malhação do Judas

    A campanha eleitoral de 2018 entrará para a história como a eleição da ilógica. Reforçando o que já se praticava em disputas anteriores, vale mais bater no candidato adversário do que enaltecer o seu. Não só nas peças da propaganda eleitoral, mas nas ruas, nos cartazes e nos comícios. O resultado foi o esperado: como fermento, o oponente só fez crescer o bolo.

    A história dos Caras

    Durante todo o primeiro turno, Lula aparecia como sendo O Cara, enquanto Fernando Haddad fazia força para não ser O Cara. Por razões estratégicas, segundo Lula, o Infalível, foi esse o jogo jogado até que O Cara que não era ainda O Cara foi para o segundo turno.

    Substituição aos 45

    Rápido como estouro de bolha de sabão, O Cara I tirou o time de campo e jogou a bola para o poste fingidor, que fingia tão completamente que não era o tal que passou a acreditar nessa estranha ubiquidade, estar em dois lugares ao mesmo tempo. E como um carnavalesco se despe da fantasia, o poste fingidor desencarnou do titular e finalmente entrou em campo com camiseta de outra cor: saiu o vermelho entrou o verde-amarelo.

    Cara ou coroa

    Também como estouro de bolha de sabão, O Cara I sumiu do campo. Nem no banco estava, para desgosto da torcida do clube. Alguns foram até conferir se ele não estava arrolado como para disputar a partida, mas não estava. Só em espírito, e em espírito não se joga futebol. Salvo postumamente.

    Chefe do cerimonial

    Mas atenção: para comprovar a doidice da campanha eleitoral 2018, se O Cara II for eleito, O Cara I assume automaticamente o posto, o eleito passará a ser simplesmente o Mestre de Cerimônias. É a tal de carreira retroativa. Enfim, saberemos domingo de noite se a jogada ensaiada deu certo.

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  • Não existe tempo ruim, só roupas ruins.

    • Provérbio sueco •

  • O dia em que a Rua da Praia amarelou

    Publicado por: • 23 out • Publicado em: A Vida como ela foi

    Os Hare Krishna estiveram muito em evidência em Porto Alegre durante os anos 1990. Com as cabeças raspadas e vestimentas parecidas com quimonos nas cor amarelo-alaranjado, os fiéis percorriam a Rua da Praia e transversais vendendo incenso e artefatos vários. Pelo menos o Centro Histórico naquele tempo rescendia a incenso e não à maconha.

    Certo dia especialmente movimentado na cidade, pelo menos duas dúzias deles percorriam a rua em uma procissão; no meio, quatro carregavam um andor de alguma divindade da seita, naturalmente tudo em amarelo-alaranjado. Quando os vi, pareceu-me um quadro do Van Gogh. Então eles caminhavam ritmicamente e cantavam aquela musiquinha que faz lembrar o Bolero de Ravel.

    Na boca da esquina com a rua Uruguai, um sujeito admirava o espetáculo, com o detalhe que estava mais adernado que o Titanic nos seus instantes finais. Não era nem meio dia e o cabra estava completamente bêbado, mais estaqueado que moirão de estância. Nisso, se aproxima os Hare. O borracho viu a banda passar e tentou focar a cena.

    Assim que passou a metade da procissão, o gambá teve uma espécie de iluminação. Depois de conseguir o foco, abriu o bocão e se incorporou à turma, levantando os braços com os dedos como se estivesse pulando carnaval, para então entrar no espírito da coisa.

    – Xô Satanás! Xô Satanás!

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  • Os perigos elétricos

    Publicado por: • 23 out • Publicado em: Usos & Costumes

    O Rio Grande do Sul registou, de janeiro a agosto de 2018, R$ 59 milhões em indenizações referentes ao seguro residencial. Destes, 54% correspondem a prejuízos de danos elétricos, 24% de incêndios e 22% de vendavais. “Em se tratando de danos elétricos, os sinistros mais comuns envolvem curto-circuito com secador de cabelo, explica o vice-presidente do Sindicato das Seguradoras do RS (SINDSEGRS), Alberto Muller.

    Secou demais

    Lembro de uma corrida de Fórmula Indy nos Estados Unidos que teve que ser interrompida devido a um curto que derrubou toda a rede elétrica do autódromo. O falecido Luciano do Vale, da TV Band, explicou que a causa foi um secador de cabelo usado por uma repórter.

    O lado escuro da Lua

    Assim como existe a chave mestra para abrir várias fechaduras, o diálogo interpessoal também tem a sua. Quando você despeja alguma situação invulgar ou difícil nos ouvidos do outro, a abre-tudo entra em ação e diz a palavra tamanho único.

    – É complicado…

    Papo de rua

    Caso você caminhe atrás de duas ou mais garotas em ambiente propício, digamos na Rua da Praia, é questão de tempo para captar uma outra chave-mestra, uma espécie de ata da assembleia:

    – Aí, eu garrei e disse pra ele…

    Tamanho único

    A expressão “é complicado” substituiu outra muito comum no passado recente. Era bem mais abrangente, porque havia mais cumplicidade. O outro esperava uma pausa na conversa para desferir uma flecha ligeira:

    -Pior que é…

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