O custo lavanderia

7 abr • A Vida como ela foiNenhum comentário em O custo lavanderia

A boate Mônica reinou soberana em Porto Alegre dos anos 1950 até os 1980. A beleza das mulheres alçou voo e sua fama se espalhou por todo o Brasil. Era o La LIcorne em São Paulo e a Mônica aqui. Inicialmente localizada na rua Dom Pedro II,  foi de muda para o bairro Cristal nos anos 1960, quando já apareciam concorrentes como a Gruta Azul e outras. A diferença é que a Mônica era um cabaré clássico. Incluindo um bar com bebidas importadas, muito caras na época.

Por tudo isso, não era para bolsos semivazios. Pelado só na cama, pelado no modo dinheiro não mesmo. Dizia eu que Porto Alegre era a Capital do Um – um só grande cabaré, uma churrascaria de fama nacional,  uma grande galeteria e assim por diante. O garçom Jorginho era pessoa muito solicitada para agendar festinhas solo ou em grupo. Também vendia bebidas importadas, desodorantes, perfumes, lâminas de barbear inglesas Wilkinson. Nada Made in Brasil, tudo de primeira qualidade. Conhecia meio mundo e meio mundo o conhecia.

Nos anos 1970, surgiu um problema fiscal de grandes proporções. O Leão, que começou a pegar pesado nas declarações do IR a partir do final da década de 1960, não acreditou na renda anual declarada pela casa. Era difícil provar qual o ganho do estabelecimento com os programas nos quartos, as comissões pagas pelas mulheres, renda com o bar e outras fontes, algumas insuspeitas, como a venda de estojos de maquiagem, roupas íntimas e coisas assim tão ligadas ao combate de Eros.

A contabilidade da casa insistia que era como o declarado. A Receita duvidava. Mas era difícil provar. Como sabemos, brasileiro só mente para baixo quando o ganho é lá em cima. Foi então que o Leão mostrou que não era só rugido, garra e juba, também sabia ser criativo. Descobriu que todo o grande volume diário de lençóis, fronhas e toalhas de banho e rosto ia para uma lavanderia terceirizada. O resultado é imaginável, deu para calcular o número de encontros diários, muito acima do declarado.

Pelo sim, pelo não, a partir desse episódio este ramo de negócio passou a ter lavanderia própria por vários anos. Vai quê.

Imagem: Freepik

www.brde.com.br

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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