Do peru ao mata-fome
Nos tempos do internato no Colégio São Jacó, em Novo Hamburgo – Hamburgo Velho, hoje Feevale, o cozinheiro Romaldo Orth era tão caprichoso que conseguia fazer croquete até de croquete do dia anterior como se fosse a primeira geração deste bolinho de carne.
De fato, o furo era até mais embaixo. Quase tudo era comida Lavoisier, o bolinho de batata, bolinho de arroz, omelete (?) de legumes, fritada disso ou daquilo. A sobremesa era pudim de pão, obviamente feito com restos do pão. Mas perto do que eu comi no Restaurante Universitário da UFRGS, na segunda metade dos anos 1960, era comida de reis. Até hoje estou convencido de que a fórmula foi copiada para alimentar os caras do 11 de Setembro em Guantánamo. Ou reféns da Al Qaeda.
Olha que já comi mal na minha vida, mas nada como aquilo. Até mesmo o mata-fome, um tijolo de restos de doces e pão dormido que se vendia nos bares da volta do Mercado Público, tinha gosto menos tenebroso. Nunca esqueço uma noite, um mês qualquer de 1966, em que ganhei um aumento e pude, finalmente, comer no bufê da Padaria Matheus, na Rua da Praia, um pratarrão de massa com picadinho de carne e, imagina, uma garrafa de Charrua Limão.
Foi minha Noite Feliz.
Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.
