A dança da solidão
Na Rua Marechal Floriano, pouco acima da Riachuelo, em frente ao que hoje é um Zaffari, havia uma danceteria inocente chamada Gato Preto, na primeira metade dos anos 1960. O luminoso retangular em preto e branco mostrava um bichano piscando um olho. Não se tratava de um território de caça, pelo menos não como os conhecemos.
Era uma casa com assoalho de madeira à guisa de pista de dança, mas dança com maior respeito. Nada de bolinadas, amassos, muito menos beijos. Dança de salão ao som de boleros e música romântica. As mulheres e homens geralmente eram do interior, dois perdidos na noite suja da cidade grande à cata de um antídoto para a solidão.
Em comum tinham a tragédia da timidez. Sentados nas mesas, os rapazes procuravam olhos neles focados, e elas se faziam de difíceis para deixar claro que não eram mulheres fáceis, emitindo códigos de retribuição quase imperceptíveis.
Na maioria dos casos, dava empate. Dois bicudos não se beijam.