Ritual de acasalamento (final)
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O ritual obedecia a normas não escritas, mas rígidas, de certa forma. Após a orquestra tomar providências musicais, os alegres rapazes da banda escolhiam a moçoila que mais lhes agradava, e após emissão de códigos por parte delas, tiravam-nas para dançar. A conversa fluía e se os dois se relinchassem, dava casório.
Mas em algum momento durante o ritual do baile, a garota fazia a inevitável pergunta: estudas? Caso positivo, qual a Faculdade? Se fosse Medicina, alegria geral. Se o cavalo mecânico engatasse no reboque da carreta antes do casório, sem problemas, desde que depois viessem as alianças e o papel passado. O risco sempre era a escapadela de um espermatozoide solitário e furungador. Mas a ideia era casar virgem.
Se a resposta dele fosse Odontologia, a menina (e sua mãe, não esqueçam) teriam uma sombra de desapontamento. Mas pensando melhor, não era marido de se jogar fora. Caso o rapaz estivesse cursando Engenharia, já não era casamento Brastemp de antigamente, mas vá lá. Se o universitário em questão cursasse Filosofia, Letras, não haveria uma segunda valsa, salvo paixão. A mãe, atenta, perguntava depois qual era o futuro ganha-pão. Parece que ainda estou ouvindo.
– Cai fora, minha filha! O sujeito está tirando Jornalismo! De pelado chega teu pai.