Publicado por: Fernando Albrecht • 12 jan • Publicado em: A Vida como ela foi •
Um baralho de cartas pode fazer um mal danado numa relação. Nas minhas idas ao interior do Rio Grande do Sul, conheci um familiar distante, sujeito simpático e contador de histórias da primeira divisão. Por várias vezes nos encontramos ao longo das últimas décadas e ele sempre tinha um causo novo para contar. Quando ele já tinha passado dos 65 anos, encontrei-o num bolicho, molhando as palavras. Já tinha gasto duas cervejas nesse trabalho, então elas saíam leves, livres e soltas.
Homem cumpridor dos afazeres conjugais, começou a perceber que a perpétua já não tinha o mesmo apetite sexual, ao passo que o dele só aumentava, especialmente depois de ler o Kama Sutra, presente de Natal de um afilhado. Na ponta dos cascos, descobriu na argentina Libres uma livraria que vendia um baralho erótico. Cada carta dos quatro naipes mostrava no verso foto de variações sexuais entre home e mulher. Os 50 tons de cinza na versão hard.
Teve uma luminosa ideia. Quando ele não estava, espalhou todas as cartas em lugares estratégicos da sua casa, debaixo da travesseiro, da fronha, no armário do banheiro, na penteadeira, no guarda-roupa e até no forno do fogão a gás. Quando a mulher voltou, esperou que o conteúdo fotográfico a excitasse.
Nem 15 minutos depois ela apareceu, furibunda. Deu-lhe uma sumanta de toalha molhada, tinha visto a que ele pôs na penteadeira. Com as costas doendo resolveu cair de banda, mas eis que ela achou uma segunda carta posta embaixo do travesseiro.
Para encurtar a história, levou pau por dias. Nunca suas costas doeram tanto. Afinal, um baralho tem 52 cartas.
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