Batida de abacate

14 mar • A Vida como ela foiNenhum comentário em Batida de abacate

– Salta uma batida de abacate!

Esse grito era ouvido de norte a sul, leste e oeste de Porto Alegre nos anos 1960. Leite, abacate ou banana, açúcar, eram misturados no liquidificador e servidos em copos grandes de 300 ml, iguais aos de chope.

O atendente ainda esperava que o cliente desse uns goles para despejar a sobra que ficou no liquidificador. Era um bom e nutritivo lanche, ainda mais se acompanhado de um croquete Lavoisier (na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma) ou um cachorro quente. Os pastéis eram grandes e ocos, só leves traços de carne. Por isso eram chamados de pastel de vento.

Para entender a Porto Alegre daqueles anos é preciso levar em conta o fato de que boa parte ia para casa, almoçava e voltava ao trabalho. Então esses bufetts de comida a quilo eram poucos.

Na Rua dos Andradas eram dois, a Praiana e o Matheus em frente à Praça da Alfândega. Restaurantes a la carte eram bem mais caros. Um que se sobressaía era a Espaghetilândia, na Travessa Acelino de Carvalho até a Borges. O resto era o Completo, hoje PF, mais acessível para a baixa renda.

Ai, meu Jesuscristinho, como era dura a carne, tudo de bicho velho com mais de quatro até seis anos no campo. Salvação: croquete, empada de galinha, pastel, bolo inglês, que hoje atende pelo pomposo nome de cupcake, só porque botaram um telhado nele. Mal e mal enganava a fome.

Bebida para acompanhar é um capítulo à parte. Refrigerante, Pepsi ou Coca, Guaraná da Brahma, e Soda Laranja (da hoje Fruki), Minuano Limão e Charrua Limão, dos Vontobel. Uma bebida muito consumida no almoço era .leite em copo. Na época, bebia-se muito uísque como aperitivo e vinho em copo. Um produto muito apreciado era o Clarete da Granja União, vinho leve entre o rosê e o tinto. Pobre bebia xarope de groselha misturado com água da fonte “torneirol”.

Lanches eram poucos, bauru, torrada com apresuntado e queijo e a indefectível empada. Torrada ganhou impulso quando inventaram aquela forma metálica com braços. E, claro, ovo cozido em conserva de vinagre, ovo frito ou quente. Só por isso a galinha teria que ganhar Prêmio Nobel. No mínimo, uma estátua do tamanho do Cristo Redentor.

Voltando aos refrigerantes. Fanta, Sprite e assemelhados só viriam depois. E a propósito da Sprite, conta-se uma história. Um bancário da região italiana foi transferido para o Rio de Janeiro. Dois meses depois, voltou para sua cidade e foi a uma lancheria matar a sede. Gritou o pedido para que todos soubessem que era “carioca”.

– Salta uma xpraite!

E arrematou:

– E uma torada!

https://www.brde.com.br/

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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