As duas piscinas
A humanidade tenta enxergar em duas piscinas de águas turvas, mergulhando nelas com sucesso apenas parcial. A primeira é a piscina do Universo. Ao longo dos anos, especialmente nos últimos cem, ela mal e mal conseguiu vislumbrar as laterais. E nisso só foi relativamente bem, ampliando seu campo de visão. Acha que viu o fundo, o Big Bang. Mas há controvérsias.
As duas perguntas fundamentais não foram respondidas: de onde viemos e para onde vamos.
Nem mesmo sabemos com certeza se foi o tal ponto extremamente quente e denso que construiu o Cosmos explodindo para todos os lados. Além disso, quem ou o quê construiu, e como, o tal ponto extremamente denso e quente? Foi a contração de um Cosmos anterior, e antes dele foi outro e assim sucessivamente? Perguntas sem resposta.
Então as paredes laterais da piscina de água turva são cada vez mais elásticas. Descobrimos maravilhas, o bóson de Higs, a física quântica, Einstein, enviamos sondas espaciais que viajam até hoje. Porém nada crescemos e sabemos para cima. Mergulhados no caldo das nossas limitações, continuamos sem ver o que há acima da linha d’água.
No popular, a rigor não enxergamos nem o fundo nem a superfície, só viajamos lateralmente.
A segunda piscina
Também de águas turvas e só conhecida lateralmente é a mente humana. O doutor Freud fez a descoberta mais angustiante da história da humanidade, que somos governados por aquilo que não governamos, o inconsciente e suas camadas, como se rocambole fossem. Antes dele os gregos já suspeitavam desse descontrole, e William Shakespeare iluminou o ser humano com seus vários eus, que mostravam a inexorabilidade das vidas trágicas.
Para mim, o grande descobridor da humanidade foi o escritor Robert Louis Stevenson com seu magistral livro O Médico e o Monstro. Não à toa lido e apreciado até hoje, eis que é o nosso espelho. Esse lado perverso e criminoso explica desde o serial killer até a guerra de Putin. Somos dois, eis nossa maldição.
Então vem o pior. Se Deus nos fez à sua imagem e semelhança, como se lê no Gênesis, estamos decididamente ferrados. Ao mesmo tempo, explica tudo e nos absolve. O que não nos consola.
O campeão
Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.
