De uma leitora
“Vejam só como são as coisas. Estava eu no carro de um aplicativo e começamos a conversar – eu e o motorista, um missionário japonês que está passando uns tempos no Brasil. Como hoje em dia a “conversa de elevador” não é mais sobre o tempo, mas sobre a guerra, ele estava me contando das aventuras do pai, que era japonês e lutou na segunda guerra (pelo Japão, óbvio).
Disse que o pai era contra a guerra, mas não podia nem pensar sobre isso – ou seria fuzilado como traidor. Mesmo assim, sempre tratou com respeito o inimigo capturado, e até mesmo aqueles que estavam para ser executados. E então, na época do bombardeio de Hiroshima e Nagasaki (que ele me explicou que a pronúncia correta é “Nagassáki”), o então soldado só não sofreu com mais intensidade os efeitos da bomba A porque estava em sua terra natal, uma ilha chamada Oshima (pronúncia:”ochimá”), isolada da ilha maior por um cordilheira.
Alguns dias mais tarde, foi lhe ordenado que fosse ajudar os sobreviventes da segunda bomba atômica sobre Nagasaki, o que lhe rendeu pesadelos para o resto da vida. Conta o Sr. O. (o motorista do aplicativo) que essa foi a única vez que o pai falou sobre a guerra. Foi num dia que ele acordou berrando, de madrugada, acordando toda a casa também (a esposa e muitos filhos). Levantaram-se todos e então ele contou os horrores que presenciou.
Veio para o Brasil na década de 60, porque então não tinha o que comer no Japão. Faleceu aos 63 anos, de problemas cardíacos. A mãe ainda mora na colônia japonesa aqui no RS”.