A Vida Como Ela Foi
O avental da Independência
Falar em pijama de hospital. Certa vez, o meu grande e falecido amigo Melchiades Stricher estava internado na Beneficência Portuguesa de Porto Alegre convalescendo de uma cirurgia para desentupir a carótida. Como ele fazia esse procedimento pelo menos uma vez por ano, já estava acostumado. Levava na boa. Mas sempre no Hospital Ernesto Dornelles, que, desta vez, não tinha vaga. Coloraram-no com outro paciente no quarto, que estava em estado crítico.
Se havia uma coisa que o Melchíades “Nada Pessoal” Stricher detestava era ver paciente sofrendo ao seu lado. Era madrugada alta e, de repente, o colega piorou a olhos vistos. Em pânico, Mel acionou a campainha que alertava a enfermagem. Como demoraram, ele não teve dúvida: saiu para a rua com aquela vestimenta esvoaçando e se plantou no meio da avenida Independência acenando para os táxis que passavam. Levou horas até um parar.
Mel deu seu endereço residencial. No trajeto, o taxista comentou a causa óbvia dos colegas não pararem.
– Olha, você vai me desculpar, mas com esse avental aberto atrás, com a bunda de fora, certamente, foi confundido por um louco que fugiu dos hospício.