Diário de uma vida nova

14 mar • Caso do DiaNenhum comentário em Diário de uma vida nova

Dia 2, terça-feira. 14 de março.

Borzeguins ao leito

Neste segundo dia da contagem regressiva (no bom sentido) para minha cirurgia, que será feita no início da semana que vem, sigo contando o dia a dia e a hora a hora dos preparativos para o grande evento – ou vais me dizer que não é um? Não só festa que se enquadra nesta definição. Por exemplo, se você tiver que ir ao banheiro e não der tempo para chegar nele, acontecerá um grande evento. Esclareço que não é meu caso. Falo em tese, então não me venham com aleivosias nem de borzeguins ao leito.

Nada de novo no front

Não há novidades hoje sobre o diagnóstico e um outro exame que fiz (biópsia). Este exame é mais ou menos como cair na malha fina. Às vezes, você tem que pagar mais, às vezes, foi apenas um mal-entendido. Gostaria muito que fosse, mas o doutor Daniel Azambuja já me advertiu que o caranguejo se instalou na saída de serviço do meu corpo. O abominável é que nem tatu, não pode ver toca que entra. Se não tem, ele escava uma. Para ele, é uma espécie de Minha Casa Minha Vida.

Carona de unha

Como a unha do dedão do pé está fazendo upgrade para se tornar unha encravada, quem sabe peço aos médicos que farão minha cirurgia se não podem também dar um jeito na danada?

O terremoto

Na Escala Richter que mede apenas intensidade dos terremotos, que se diz que vai até 9, mas pode ir muito além, o impacto do diagnóstico foi um grau 8, digamos. Mas, como em todo o sismo, sobrevêm os tremores secundários, que podem ser de bom tamanho. É o caso. Mas sigo inarredável na minha proposta de tratar a doença com meu jeito de ser, que é insistir no humor.

A vida continua

Não sinto dor, me alimento normalmente, o apetite sempre é grande, continuo caminhando 5 Km na esteira e pretendo ir na academia até um dia antes de vestir aquele pijama que te deixa de bunda de fora. Não deixa de ser um paradoxo, o pijama hospitalar protege meu escalão avançado e deixa a retaguarda a descoberto.

A curva do reto

Estou pensando em denunciar o câncer no Tribunal Internacional de Genebra por violação dos direitos humanos. E também quero que a Organização Mundial da Saúde corrija um grave erro: o reto é curvo. É reto só um pouquinho.

Segunda época

Baixo ao hospital no domingo, 18, cirurgia um ou dois dias depois. Farei exames complementares. Fico com a mesma incômoda sensação que tive no colégio: ficar em segunda época, hoje chamada de recuperação. Parece que alunos não podem mais ser reprovados, o que é um convite ao um futuro demente. O Brasil faz força para caminhar para trás.

Eu no satélite

Estudo divulgado recentemente indica que o mercado de Observação da Terra pode alcançar até 15 bilhões de euros dentro de 10 anos. E que o tamanho do mercado global de imageamento (!)aéreo deverá chegar a 3,2 bilhões de Euros em 2023. Já os drones têm potencial para chegar a 127 bilhões de Dólares. De repente, um satélite capta as imagens da minha cirurgia. Imagina, eu no You Tube para todo o mundo!

Pensando bem, melhor não.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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