A cobra que fechou um aeroporto
Às vezes, dou-me conta de acontecidos inusitados, neste Rio Grande velho de guerra, que parecem ficção no melhor estilo realismo fantástico. E os relatos que aqui faço foram sabidos, vividos ou acompanhados por mim. Não esqueçam que nasci em 1943.
Foi o caso do título acima. Coisa que se fosse contada no exterior ou até mesmo na cidade grande causaria incredulidade.
Em meados dos anos 1970, a aviação regional contemplava várias cidades do interior, maioria com o turobélice da Rio Sul, subsidiária da Varig. Aos poucos, os voos foram tateando, combinação de pouca demanda-passagem cara.
Foi o caso de Livramento, fronteira seca com o Uruguai. Como havia uma demanda executiva, empresas de táxi-aéreo a supriam.
Em1974, estava eu na redação da Folha da Manhã quando recebi a ligação de um piloto amigo desde os meus tempos de aeroclube. O que ele narrou quase me fez cair da cadeira. Na área de estacionamento das aeronaves, abundava a mortal cobra Cruzeira, por motivo ignorado.
Ofídios, como sabemos, gostam de calor por serem animais de sangue frio. Então, recarregam as baterias no sol ou com outra fonte de calor.
Quando os aviões pousavam, elas procuravam o calor dos motores. E, não raro, entravam na cabine se a porta estivesse aberta ou semiaberta. Foram vários os casos e um deles foi contado pelo comandante Uílde Pacheco.
Temor exagerado ou não, os pilotos brasileiros operavam no vizinho Aeroporto de Artigas, cidade uruguaia. Mas é para ver como as coisas eram naqueles tempos.