Os criadores de comida (II)
Na segunda parte sobre usos e costumes das colônias alemãs no Rio Grande do Sul, especialmente na região do Vale do Caí, lembro da minha infância e depois das férias de inverno e verão que passava com os meus tios Sireno e Emerlina Selbach, em São Vendelino. Durante praticamente 20 anos nestas condições quase nada mudou. Foi só dos anos 1970 em diante que e explosão demográfica destroçou tudo e pôs abaixo todas as cenas da minha infância e adolescência. Como era verde meu vale, então.
Meu tio era escrivão, mas nossos vizinhos eram todos colonos, quase sempre com uma gleba de terra entre 20 e 25 hectares, oficialmente chamadas de Colônias de Campo. Foi no tempo da colonização que essa palavra se incorporou ao cotidiano. Começando pelas refeições: o café da manhã era bem cedo; para quem tinha vacas para ordenhar, muito cedo. Tipo 4h30min. No meio da manhã, comia-se uma refeição intermediária (frishtick). Levava-se à roça café com leite, pão feito em casa, geralmente preto, manteiga, salame e shmier da colônia; ao meio dia, almoço e breve sesta para os pais. Filhos tinham que trabalhar.
No meio da tarde, vinha outra frishtick nos mesmos moldes da manhã. Aí os colonos iam até o anoitecer. Depois vinha a higiene pessoal sempre feita no capricho. Quem trabalhava na roça cuidava especialmente dos pés, que mais sofriam com a lida. E quase sempre de pé descalço, quando muito, tamancos. Dormia-se cedo, por volta das 21h ou pouco mais. Mas vai dizer isso para a gurizada, vai. Eu guardo na memória cheiros, imagens, sons, gargalhadas tudo à luz de um candeeiro ou velas de cera de abelha. Depois veio o progresso, com as lâmpadas Aladim, que custavam caro.
Dos cheiros falo amanhã.
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