Um dia daqueles
Volta e meia, lembro de um dos mais funestos dias da minha existência. Morávamos em São Vendelino, onde meu pai tinha uma venda e dois possantes caminhões Ford F8 para “puxar carga”. Além disso, tinha uma prensa de alfafa, a comida preferida dos cavalos.
Eu tinha de sete ou oito anos. Domingo festivo, Bodas de Prata do seu Franz Josef Albrecht e dona Felicitas Avelina Selbach Albrecht. Cita para os alemães e Zita para os demais povos.
Rapaz, sou capaz de descrever todo o cenário, as plantas, arbustos, o depósito de alfafa para formar os fardos e até os cheiros daquele dia funesto. Brincávamos na prensa, movida por um cavalo, naquele dia era tracionada – de brincadeira – por primos e amigos.
De alguma forma, deixei a perna direita no lugar errado. Fratura feia. Fui levado às pressas para o hospital de Bom Princípio.
Hoje se vai num upa. Mas na época os carros andavam a 40km por hora nas estradas de chão batido. Outra zebra: pifou a anestesia no meio da cirurgia. Rima, mas doeu pra caramba. Então me levaram para o hospital de São Sebastião do Caí.
Adivinhem o que aconteceu com o sortudo aqui. Sim, pifou a anestesia de novo no meio da operação. Não era como hoje, você cheirava clorofórmio, um éter que não dava barato. Dizem que deixei surdos todos os pacientes, enfermeiras, médicos e até os anões de jardim daquele nosocômio.
Mas tem que ver o lado positivo. Não só ganhei brinquedos fora do Natal, como também não precisei ir ao grupo escolar por um mês.
A única coisa chata era o comichão por baixo do gesso.