O pipoqueiro e a gestão empresarial

21 fev • ArtigosNenhum comentário em O pipoqueiro e a gestão empresarial

*Por Erico Costa Barros

Não é relevante o tamanho da empresa, o faturamento que aufere, o setor em que atua, a sua localização ou o público que atende. É de pouca importância se estamos falando do pipoqueiro que atende a comunidade, da costureira que trabalha na periferia, da imensa fábrica de cervejas da cidade ou da colossal usina siderúrgica do país. Todas precisam de uma gestão empresarial para atender seus clientes, obter os resultados planejados, a qual se alargará ou se sofisticará, na medida em que crescem seus negócios.

A gestão empresarial eficiente permite uma luta vitoriosa contra a concorrência e dentro dos padrões éticos que se espera de uma empresa inserida em qualquer sociedade civilizada e, mais ainda, obtendo lucros. A boa gestão empresarial praticada no presente, sem dúvida, garantirá um futuro de sucesso!

Vamos tomar como exemplo algo que parece de grande simplicidade, mas na verdade exige larga dose de gestão para se vender pipocas e manter sua sobrevivência. Notarão, linhas abaixo, um volume enorme de passos que precisam ser percorridos, mesmo que informalmente ou mesmo empiricamente, ainda que seja um micro negócio.

CONCEPÇÃO

Foi tomada a decisão de se vender pipoca. Decisão esta que nasceu de um planejamento estratégico, certamente familiar, considerando:

  • Necessidade de uma fonte de renda para a família, quer seja única ou suplementar;
  • A perspectiva de uma colocação no mercado, como colaborador, foi considerada remota por diversas razões;
  • A implantação não é muita cara, tampouco de alta complexidade;
  • Possivelmente foi inspirada em algum caso de sucesso que se tomou conhecimento e, por precaução, foram analisados casos de insucesso que evitarão um embarque equivocado.

IMPLANTAÇÃO

Começa, portanto a fase de implantação do negócio e análises e estudos serão indispensáveis. Um dos primeiros passos que você vai dar será o de instalar sua fábrica que é um carrinho de pipoca.

  • Temos poupança para adquiri-lo?
  • Há algum ativo disponível para venda e com o produto comprar o carrinho?
  • Será vantajoso ou inevitável a compra de um carrinho de segunda mão?
  • Há a possibilidade de aluguel?
  • Possuímos crédito para obtenção de um financiamento? Há incentivos para este tipo de empreendimento?
  • Temos habilidades para construir nosso carrinho a preço reduzido, usando sucata, por exemplo?
  • Como faremos a manutenção do equipamento — manutenção própria ou terceirizada?

Passo seguinte será a escolha de uma boa localização e o planejamento das vendas. Atenção que, neste ponto, seu carrinho de pipoca passa a ter outra finalidade além da produção, qual seja, é a loja de vendas, necessitando, portanto, boa aparência, limpeza e higienização impecáveis, segregação de funções (guarda do estoque intermediário, dinheiro longe da alimentação) e segurança física para vendedores e clientes. Portanto, as perguntas são:

  • Onde será o local? Na praça ou frente à escola ou no parque ou em todas as opções em dias e horários diferentes?
  • Há segurança para a instalação do negócio?
  • Nos dias de chuva, férias escolares, inverno rigoroso, o que faremos?
  • Grandes eventos como Carnaval, 7 de setembro, jogos de futebol e outros, estaremos presentes?
  • Esta loja precisará de algum tipo de ajudante? Para fazer o quê? Em quais dias e horários? Um somente será suficiente? Lembre das exigências trabalhistas. Custam caro!

Portanto, resumindo, necessitamos de um planejamento das vendas, quando serão identificados e analisados vários módulos como: índice potencial de consumo das áreas selecionadas, isto é, se há consumidores de pipocas, sazonalidades, (estações do ano e eventos) preferência do consumidor, (doce ou salgada) público-alvo, (idade, sexo) preço capaz de ser absorvido pela comunidade, força dos concorrentes próximos.

Continuando com a implantação, outro passo importante será o planejamento das compras.

  • Trabalhe com ingredientes de boa qualidade;
  • Identifique, com precisão, o volume de cada item a ser adquirido;
  • Certifique-se de que não há restrições quanto a prazos de entrega;
  • Eleja fornecedores diversos e idôneos e com preços competitivos;
  • Registre, com detalhes, as especificações dos ingredientes que serão utilizados.

GERENCIAMENTO

Vamos ingressar no gerenciamento do negócio, analisando três pontos fundamentais de controle, considerando que receitas e gastos estão sob total controle.
Estoques — itens a considerar

  • Local de guarda do estoque principal, com condições adequadas de temperatura, umidade, controle de pragas;
  • Estabeleça níveis mínimos e máximos de estoque, evitando-se perdas ou faltas;
  • Controle de prazos de validade dos alimentos, principalmente.

Contas a receber — itens a considerar

  • O negócio será predominantemente de vendas à vista;
  • Podemos ter eventuais concessões para cartão de crédito (atenção aos prazos de recebimento e taxas cobradas pelas operadoras) e Pix;
  • Inadimplência deve ser mantida com tolerância zero, evitando-se destarte, endividamentos.

Contas a pagar — itens a considerar

  • Da mesma forma serão efetuadas as compras à vista.
  • Há possibilidade de compras com cartão de crédito, eventuais.
  • Endividamento, nem pensar.

Compras e vendas com cartões de crédito devem ser bem controladas para que não haja posições descasadas, ou seja, só pagar após receber. Finalmente, como bom vendedor seja simpático e sorria, pois você depende do público.

Como dito, inicialmente, gestão precisa e deve estar presente em todas as empresas e em todos os momentos de sua existência, desde sua concepção. Será que o pipoqueiro ou o microempresário percorrem todas estas etapas? A resposta é sim ainda que façam sem perceber e aqueles que fazem, em pouco tempo, crescem e, os que ignoram, tem um destino bastante comprometido.

* Conselheiro e sócio do Aquila, Erico Costa Barros é administrador com especialização em economia e finanças pela University of Cambridge e avaliação de negócios governamentais pela USP. Participou do Program for Management Development da Harvard University e integrou a 1° missão de executivos brasileiros ao Japão, em 1991. Atua há mais de três décadas com a gestão de organizações de diversos segmentos.

ATENÇÃO: As opiniões publicadas em artigos não necessariamente são as do editor deste blog.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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