Pensamento do Dias
O povo é como chinês: tudo igual.
Conheço um bocado de donos de restaurantes e cafeterias, e tenho conversado com muitos deles e outros têm me ligado. Olha, depois de mais de 50 anos de profissão, sou muito bom na arte de detectar falsas emoções. Desta vez, a choradeira é com lágrimas de verdade. Não se finge voz embargada.
Eles imploram que eu publique algo que atinja o coração do prefeito. Imploram que ele permita que possam abrir em horário reduzido, tipo entre 11h e 17h. Mesmo com tele-entrega, contam, não conseguem nem pagar o mínimo do mínimo. E, ao contrário do que se pensa, pouquíssimos sobreviventes têm gordura acumulada para resistir por mais um mês, se tanto. E aí, faz o quê?
Se já existia o pague-leve, por que essa macaquice de botar em inglês? Todo mundo fala mal dos americanos, mas só sabe imitá-los.
Uma cafeteria que serve também lanches rápidos e almoços leves foi obrigada a entrar no pague-leve. Mesmo baixando o preço, só vende seis almoços por dia. Não precisa um especialista para enxergar que vai mal a coisa.
Não é informação, é palpite. Se até semana que vem o prefeito Nelson Marchezan não permitir que se abram as cortinas, a cobra vai fumar.
Aí me dizem que ele permite a reabertura desde que o governador Eduardo Leite mude a cor da bandeira para laranja. A questão é que ambos são reféns dos especialistas, sempre eles.
Então tem o Dia dos Pais. Não o dia do Pai, é no plural. Quando falamos “pais” significa pai E mãe. Com todo respeito, mãe tem duas datas comemorativas e pai tem uma dividida por dois. Sem falar no Dia da Sogra, mas neca para o sogro.
Décartes dizia “trocaria tudo que sei por metade que não sei”. De minha parte, não sei mas nada exceto uma coisa: todo mundo endoidou de vez.
Quem disse foi o jornalista Humberto Trezzi, de ZH: apesar da explosão de venda de armas no governo Bolsonaro, o número de mortes por armas de fogo diminuiu. Puxando assunto paralelo: durante os anos Lula, quando a renda se ampliou, a criminalidade aumentou, contrariando a eterna tese da esquerda que crime diminui quando a economia vai bem.
Os brasileiros se dividem em grupos. Hoje, são os especialistas e os não-especialistas. Os primeiros podem falar sobre qualquer coisa, do vírus, como sair da crise, como reerguer sua empresa, como melhorar suas vendas.
Mas a raça dominante é a dos especialistas em vírus. Eles são invocados até quando não existem. Sabem tudo de pico, curva, isolamento e coisas assim. Se um membro da ralé, os não-especialistas, ousa duvidar deles, pedem até a pena de morte para o atrevido.
Os especialistas costumam ser de esquerda. A plebe ignara é de direita. Por isso se metem de pato a ganso, os desaforados. Especialista tem canudo; ao recebê-lo, automaticamente se torna um deus. A representação pictórica e um canudo de onde saem penas de pavão.
Não há tempo ruim, há roupas ruins.
Cada geração chega ao fim do seu espaço e fica desorientada por não entender a próxima. Eu gostava dos Beatles, mas meus pais, tios, vizinhos e todos acima de 40 anos, não. O gap era de 10 ou mais anos. Mas nem em uma centena de anos dá para entender o que hoje chamam de música. Pelo menos a brasileira.
Há fatos na nossa vida que lembramos com prazer até hoje, mas que para os novatos não tem a menor graça. Um respeitado homem público e advogado, capitão de longo curso da sua matéria, chegou à velhice muito avariado. Os seus delírios eram em latim. Então tinham que buscar o irmão com os mesmos dotes linguísticos para traduzir o monólogo.