• O pedido na Pelotense

    Publicado por: • 21 dez • Publicado em: A Vida como ela foi

     O Hugo e o Elpídio eram os dois garçons seniores do Bar e Rotisserie Pelotense, na rua Riachuelo (olhe a elegância do nome do estabelecimento), em Porto Alegre. O Hugo, xerox do ator Walter Mathau, era comedido, voz grave, andar calmo e que dificilmente se irritava. Já o Elpídio era o oposto. Baixinho e nervosinho, saltitava entre as mesas movendo rapidamente a cabeça em direção a algum perguntador. Ria facilmente e então aparecia um dente de ouro na meia esquerda, mas também tinha pavio curto. No caixa, reinava a Fifa; na cozinha, a Vandinha. O dono, João Mariano, era um tipo sisudo. Um dia, avisou a Fifa que iria ao dentista e nunca mais voltou nem dele se soube notícia.

     Ambos se revezavam para atender a Mesa Um. Certo dia, chamei para pedir um bauru. O Hugo se aprochegou mais devagar que carreta manobrando de ré. Bloquinho de comanda, caneta Bic na mão, esperou com ar grave as minúcias do meu pedido.

     – Hugo, eu quero um bauru de pão cervejinha, com queijo duplo e bife de filé, um pouco mais que ao ponto, só uma rodela de tomate gaúcho e sem alface, ouviu bem? Alface tem giárdia, quero ficar longe dele. Presta atenção no ovo, Hugo….

     E ele anotando.

     …manda fritar o ovo até que as bordas fiquem levemente queimadas em toda a volta; a gema não pode ficar dura e precisa ter vocação para escorrer assim que o garfo a atingir. Certo?

     O Hugo fez o ponto final com a Bic na comanda, virou-se para a escada que dava na cozinha e gritou:

     – Vandinha, salta um bauru!

    Publicado por: Nenhum comentário em O pedido na Pelotense

  • O especialista é um homem que sabe cada vez mais sobre cada vez menos e, por fim, acaba sabendo tudo sobre nada.

    • George Bernard Shaw •

  • Coitado do milionário

    Publicado por: • 21 dez • Publicado em: Notas

     Certo sábado, estávamos eu e um grupo de jornalistas comendo uma feijoada no Hotel Laje de Pedra, em Canela, quando alguém alvitrou que o melhor dia da semana era a sexta-feira, pela perspectiva do final de semana e seus encantos. Todos foram unânimes na concordância, menos um que era milionário de nascença. Perguntei se ele não gostava das sextas. Com certa tristeza, explicou.

     – É que não posso sentir nada numa sexta simplesmente porque nunca trabalhei. Os dias são iguais para mim. Então invejo vocês por terem esse privilégio.

     Entreolhamo-nos e, miseravelmente, ficamos com pena do pobre milionário. Dinheiro compra tudo, menos a sensação das sextas-feiras.

    Publicado por: Nenhum comentário em Coitado do milionário

  • De muda

    Publicado por: • 21 dez • Publicado em: Notas

     Não há família de conhecidos e amigos em que não exista alguém que foi ou vai de muda para outros países, cansados que estão de Pindorama. Até onde senti, a Austrália e o Canadá são os preferidos, fora Miami, mas para quem já tem um bom dinheirinho. E, claro, a maioria é gente jovem, alguns até bem jovens.

    Publicado por: Nenhum comentário em De muda

  • Como era…

    Publicado por: • 21 dez • Publicado em: Notas

     Isso é melancólico para quem fica. Houve tempo em que os pais faziam de tudo para que os filhos não saíssem do radar da família, e ficava uma tristeza enorme quando alguém batia asas e voava para longe, quem sabe para nunca mais voltar.

    Publicado por: Nenhum comentário em Como era…