• A Vida Como Ela Foi

    Publicado por: • 14 mar • Publicado em: A Vida como ela foi

    O avental da Independência

         Falar em pijama de hospital. Certa vez, o meu grande e falecido amigo Melchiades Stricher estava internado na Beneficência Portuguesa de Porto Alegre convalescendo de uma cirurgia para desentupir a carótida. Como ele fazia esse procedimento pelo menos uma vez por ano, já estava acostumado. Levava na boa. Mas sempre no Hospital Ernesto Dornelles, que, desta vez, não tinha vaga. Coloraram-no com outro paciente no quarto, que estava em estado crítico.

         Se havia uma coisa que o Melchíades “Nada Pessoal” Stricher detestava era ver paciente sofrendo ao seu lado. Era madrugada alta e, de repente, o colega piorou a olhos vistos. Em pânico, Mel acionou a campainha que alertava a enfermagem. Como demoraram, ele não teve dúvida: saiu para a rua com aquela vestimenta esvoaçando e se plantou no meio da avenida Independência acenando para os táxis que passavam. Levou horas até um parar.

          Mel deu seu endereço residencial. No trajeto, o taxista comentou a causa óbvia dos colegas não pararem.

        – Olha, você vai me desculpar, mas com esse avental aberto atrás, com a bunda de fora, certamente, foi confundido por um louco que fugiu dos hospício.

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  • Num restaurante, sempre procure mesa perto do garçom.

    • Provérbio judaico •

  • Diário de uma vida nova

    Publicado por: • 13 mar • Publicado em: Caso do Dia

    Dia 1, terça-feira. 13 de março.

     00:00h

        Dentro de seis dias me internarei em um dos hospitais da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre para uma cirurgia a fim de retirar um tumor. Câncer no reto, para ser claro. Agora entendo profundamente o ditado popular de “deixar o seu na reta”. Reto, no caso. A previsão é de que eu fique no hospital entre nove e dez dias. Depois, uma semana e pouco em casa. Se tudo der certo, em três semanas estarei de volta no grid de relargada. Durante todo esse tempo escrevendo sobre o processo. Não temam, não vou chorar as pitangas nem o leite derramado.

    Grid de largada

         A primeira curva venço já no domingo, com uma série de exames complementares para demarcar território. Um ou dois dias depois, entro na faca. Como começou? Um checkup completo com o doutor e amigo de longa data Fernando Lucchese deu o alarme. Duas alterações, um no eletro – que se revelou normal – e outro na colono. Abrevio o termo porque os médicos adoram diminutivos, eles e os dentistas. É dermo, colono, eletro e coisa e tal. Dentista, especialmente as mulheres, falam em dentinho, bochechinha, cariezinha, nervinho, ouviu, vou dar uma picadinha na tua grengivinha, a dorzinha passa rapidinho.

    Sai de baixo

         O preparo deste exame é um saco. Dois dias com rígido controle alimentar e líquido, nada disso, nada daquilo. O ruim é ficar sete horas sem beber nada antes do exame. A fronteira da sede suprema termina depois de ingerir 250 ml de um líquido doce. Acrescente outro tanto de Guaraná, sugeriram. Mais doce ainda. Uma hora depois, sai de baixo. Com todo o intestino esvaziado, você quase flutua pelo peso descarregado.

    O Zeppelin

         Fiquei imaginando. No tempo dos dirigíveis, a tripulação abria tanques de lastro com água para aliviar o peso e fazer o dirigível subir. Se eu soubesse o que sei hoje e pudesse voltar no tempo, diria para o meu xará Ferdinand von Zeppelin que mandasse toda a tripulação tomar esse laxante ainda em terra.

    Transparência

         Interessante como funciona a medicina moderna, especificamente as imagens de tomografias e aquela câmara de vídeo que introduzem no túnel, aquele, vocês sabem. Mesmo com toda a escuridão, a câmara possibilita transparência total. Duvido que alguma empresa ou área pública a tenha tão completa.

    Os sinais

          E por que não fui ao médico antes, quanto os primeiros sintomas apareceram? Eu culpava minha intolerância a alguns tipos de alimentos, talvez glúten. Ou seja, eu botava no do glúten. No dos outros, é colírio. Sem contar que TODOS os exames clínicos (sangue) deram normal e ecografia idem. Além disso, caminho entre 4,5 a 5 mil metros, dia sim dia não, na academia do União há anos, fora os ferros (braços e pernas). Zero fraqueza. Já não se faz mais câncer como antigamente.

    O balanço

          O primeiro impacto te derruba um pouco, depois você assimila o golpe. Eu pretendo escrever sobre meu problema mas com meu toque de humor. Meu rabo jamais será um muro de lamentações. O que será, será. Amanhã saberei mais detalhes e aí eu conto o causo como o causo é.

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  • O batismo hospitalar

    Publicado por: • 13 mar • Publicado em: A Vida como ela foi

         Afora para visitar parentes e amigos, só entrei uma vez em hospital até agora para algum procedimento. Eu tinha seis para sete anos quando deixei a perna direita em uma prensa de alfafa, que era um dos negócios do meu pai, em São Vendelino. Por azar, um domingo, bem no dia das Bodas de Prata dos meus pais.

         Gritei muito, disso eu lembro. Também lembro do meu tio e padrinho Edgar Selbach descer correndo da festa e me levar nos braços até a cama. Outra lembrança vívida foi o percurso até o hospital em Bom Princípio. De acordar no meio da operação porque a anestesia parou de fazer efeito. O cheiro de clorofórmio está nas minhas narinas até hoje. Ou seria éter?

         Depois, foi uma festa. Compraram uma bengala para mim e eu desfilava com ela com a perna engessada para cima e para baixo como se fosse a versão infantil de Charlie Chaplin.

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  • Cuidado com o homem que não devolve a bofetada. Ele não a perdoou, nem permitiu que você se perdoasse.

    • George Bernard Shaw •