• Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.

    • Clarice Lispector •

  • A saída

    Publicado por: • 24 ago • Publicado em: A Vida como ela foi

    Estancieiro da Campanha dos antigos, do tempo em que se tocava gado coxilha acima para soltar os carrapatos, não renegou as modernidades e sempre se manteve alinhado com as melhores técnicas disponíveis no campo. Só tinha duas resistências: avião e cidade grande. Por isso, relutava em realizar seu sonho de consumo que era assistir o FlaFlu no Maracanã. Mas um dia tomou tenência e, após se despedir da família, dirigiu solito seu Monza até o Rio de Janeiro. Foi com sua melhor fatiota.

    Deixou o possante em um estacionamento e, na base do peito e na raça, finalmente entrou no Maracanã mais feliz que formiga em tampa de xarope. Foi se enfiando na torcida como percevejo em costura e viu seu time empatar no final do jogo. Mais de 90 mil pessoas saíram ao mesmo tempo e o xiru se viu em palpos de aranha primeiro para achar o Monza e pegar o caminho de volta. Quando avistou um PM foi direto ao homem da lei.

    – Moço, onde fica a saída pra Bagé?

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  • Como era verde meu vale

    Publicado por: • 23 ago • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Escrevi – na página 3 do Jornal do Comércio – um fato estarrecedor para os gaúchos que ainda acham que somos os reis da cocada preta: de Santa Catarina emplacar mais carros 0Km do que o Rio Grande do Sul. Ali, ali, mas passou, algumas centenas além de 102 mil, maioria automóveis. A diferença do IPVA (2% lá e 3% aqui) pode ser parte da explicação, porque muita gente emplaca seu carro em plagas catarinenses.

    Bananeira que já deu cacho

    OK, mas não serve de consolo, pelo simples fato de Santa Catarina ter 7 milhões de habitantes (em números redondos) e nós 11,5 milhões. Então o fato continua sendo vexatório para nós. O ICMS tem alíquota menor, a gasolina custa 50 centavos a menos, e assim vai. Não se trata de culpar o governo atual. Nós nos enterramos há décadas. Coisas conhecidas, arrogância, falta de união, máquina pública inchada, entre outros fatores.

    Inimigos na mesma trincheira

    Com casa lotada, o debate no Tá na Mesa de ontem, na Federasul, teve o momento mais tenso da campanha eleitoral até agora. Mateus Bandeira (Partido Novo) e Eduardo Leite (PSDB) protagonizaram um forte discussão com acusações mútuas. E o candidato do PT, Miguel Rossetto, mereceu murmúrios de reprovação quando chamou a presidente da entidade Simone Leite de “presidenta”.

    Caprichos de eleitor

    A reprovação da população ao governo de Michel Temer recuou nove pontos percentuais do início de junho até agora, embora continue acima de 70%, além de não ter aumentado a aprovação à gestão. Talvez porque a mídia largou Temer de mão, talvez porque a economia vai reagindo, por incrível que pareça.

    Reação industrial

    Um exemplo: o indicador de utilização da capacidade instalada da indústria brasileira subiu para 68% em julho, recorde em quatro anos. O dado é da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

    Surpresa

    O indicador que me surpreendeu foi a constatação do Datafolha que apenas 33% estão insatisfeitos com a vida que levam, e 66% acham que estão numa boa.

    Jogo duplo

    Sempre fico com um pé atrás, porque dependendo da pergunta e suas circunstâncias, Deus pode parecer o diabo e vice-versa.

    República da Cadeia

    O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, disse que é uma questão “em aberto” a possibilidade de réus em ação penal serem eleitos para a Presidência da República e assumirem o comando. As orelhas de Jair Bolsonaro esquentaram porque ele é réu por incitação ao estupro na Corte. Se um dia for preso, seremos o país da cadeia, incluindo os notáveis que já estão vendo o sol nascer quadrado.

    Paulo, o Esquivo

    Tivemos vários nomes na história com o adjetivos, Pepino, o Breve; Plínio, o Moço; e o Brasil pode se orgulhar de ter Paulo Maluf, o Esquivo. Só agora a Câmara cassou seu mandato, décadas depois das suas aprontadas com o erário. Com bons advogados e grande dose se esperteza, Maluf é do tipo de botar suspensório em cobra correndo. Até agora.

    Deu pra ti

    Interessante a entrevista do cineasta e ex-executivo do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o paraibano Paulo Melo, na série Nêumanne Entrevista. A certa altura, ele afirma que “o grande esforço nacional seria no sentido de esquecer Lula, por um simples e prosaico motivo: ele já deu o que tinha a dar”.

    Renovação estática

    Pode-se contestar Melo, mas é inegável que o PT se transformou um Partido de Um Homem Só. Veja-se o caso gaúcho. Os nomes postos pelos petistas para o Governo do Estado são os mesmos há décadas, a maioria do início dos anos 1990. Não há renovação no partido das mesmas estrelas. Aliás, é um antigo vício da esquerda.

    Jornal do Comércio

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  • Só há um tipo de amor que dura, o não correspondido.

    • Woody Allen •

  • O secretário francês  

    Publicado por: • 23 ago • Publicado em: A Vida como ela foi

    Houve uma época na minha vida em que um bom número de pessoas recém-apresentadas me chamavam de “Fernandes”. Sei eu porque cargas d’água. Fosse hoje até dava para entender, mas nessa época eu tinha 30 anos e olhe lá. Mistérios cognitivos da mente humana.

    O inesquecível locutor de rádio, depois apresentador de TV, Airton Fagundes, era amigo – desde a juventude em Passo Fundo – do advogado e secretário da Saúde Lamaison Porto, cuja pronúncia era “Laméson”. Mas não para Airton. Dizia “Lamaison” mesmo, o que aborrecia o passo-fundense. Um dia, ele pediu para um amigo comum que pedisse ao Airton que desse a pronúncia correta quando falasse no rádio. Airton ouviu o pedido em silêncio. Em seguida entrou no ar.

    – O secretário Lamaison Porto anunciou que..

    Com todas as letras. Ante o questionamento do amigo, explicou.

    – O Lamesón não tem nada de francês, é Lamaison mesmo.

    Só para inticar com o amigo. Meses depois, passou a falar Lamesón.

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