• Como se caçam minas (final)

    Publicado por: • 14 nov • Publicado em: A Vida como ela foi

    De todas as histórias que ele contou, e lamento profundamente não ter ouvido mais, ter conversado mais com ele sobre o assunto, nunca esqueci como um barco caça-minas caça as minas. Como é sabido, estes artefatos lançados no mar são presos no solo marinho por uma espécie de âncora. Eles ficavam submersos e não eram visíveis da superfície. Desnecessário dizer que era uma arma terrível.

    A imagem recorrente é uma bola grande cheia de espigões, que continham as espoletas. Ao se chocar com o casco submerso, explodiam. Quando as redes do caça-minas as apanhavam e arrastavam para a superfície, os melhores atiradores da tripulação, do cozinheiro ao capitão, miravam nos espigões com o fuzil SIG44, abreviação de Sturmgewehr 44, Precisava mesmo de bons atiradores, pois a distância era longa e não era fácil acertar bem na ponta dos espigões – as espoletas – até porque a mina flutuava ao sabor das ondas e mudava de posição a cada segundo.

    O que significa que os marujos lutavam de duas formas, por assim dizer. Uma na guerra e outra dando tiro de fuzil em minas que, se não fossem detonadas a uma distância prudente, acabavam explodindo o vaso de guerra e o cara que acertou na espoleta.

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  • Tempos de cartomancia

    Publicado por: • 13 nov • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Está chegando a época em que entidades empresariais, economistas e assemelhados fazem suas projeções sobre o que nos espera em 2019, com foco na economia e política. Os famosos mercados, enfim. Eu vou a esses eventos ou recebo pelo menos duas dúzias de textos sobre o que devemos esperar. Nem Jair Bolsonaro sabe o que o espera, imagina nós.

    Na teoria, tudo dá certo

    Leio ou escuto previsões teoricamente inteligentes e com base lógica há décadas, e sempre repito que tudo pode estar bom e certinho, mas o imponderável espreita na próxima esquina ou na próxima moita, se o assunto for a agropecuária. É interessante que boa parte desses analistas deixa os cenários internacionais como um apêndice, não o motor que influencia o mercado interno, seja câmbio ou bolsa.

    Alinhamento dos planetas

    Mesmo quando não ocorre nenhum evento mais perturbador já é difícil que acertem. Imagina neste mundo doido, varrido e encerado de hoje. Eu gostaria que substituíssem “cenários” por “especulações”, que dá mais direito de errar. Ou, pelo menos, não está embebido em certeza sem razão de ser.

    Fala, Mangueira

    Então eu traço o meu cenário, que é uma certeza. Não, não reneguei a afirmação anterior. Tudo vai depender se Jair Bolsonaro conseguir aprovar as reformas, algumas pelo menos. Se conseguir isso e se a esquerda vociferante não atrapalhar mais do que já atrapalha, podemos dizer que o Brasil, depois destas mudanças, terá o cenário do famoso samba Mangueira: Mangueira/teu cenário é uma beleza.

    Eu fora

    Mas existe uma coisa nesta Província de São Pedro do Rio Grande do Sul: quando entidades apresentam seus palestrantes “cenaristas” que fizeram pajelança para descobrir o futuro, repito que, se eu fosse paulista e tivesse um MBA ou tivesse passado pelo governo federal em algum ano pós-1993, me convidariam para fazer a palestra pagando 10, 20 mil dólares ou mais. Meu azar foi ter nascido gaúcho. Tudo o que estes oráculos dizem me fazem bocejar. Ou quase tudo, poucos realmente surpreendem. Tenho 50 anos de jornalismo na cacunda.

    Homenagem ao seu Raul

    raul randonPassados oito meses de sua morte, o fundador das Empresas Randon e RAR, Raul Anselmo Randon, recebeu na última  semana mais uma homenagem póstuma. Desta vez na Itália, onde a viúva Nilva Randon retornou com as filhas Roseli e Maurien e com o genro Sérgio Martins Barbosa. Na ocasião, foi descerrada no Cemitério de Muzzolon – Cornedo Vicentino, uma lápide em memória a Raul Randon, com a mensagem: “Empreendedor de sucesso e visionário, homem generoso e otimista, sempre quis manter uma estreita relação com a comunidade de Cornedo Vicentino, de onde, em 1888, emigrou seu avô Cristóforo”.

    Foto: Paolo Meneghini 

    Por falar no caxiense…

    …nunca esqueço de certa vez, nos anos 1980, que ele me convidou para almoçar. Topei. Saímos da redação e ele foi na primeira lanchonete que encontramos e me pagou um sanduba de mortadela.

    Gestantes

    O Hospital Moinhos de Vento realiza nova edição do encontro mensal Papo com a Gestante. Grávidas e seus acompanhantes estão convidados para discutir temas de interesse em uma roda de conversa com a equipe do Centro Obstétrico e Maternidade. O evento será na quarta-feira, 14 de novembro, das 18h às 19h.

    Mais um

    Depois de 84 anos, o jornal Gazeta de Alagoas deixa de ser diário e circulará apenas uma vez por semana.

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  • Acreditar é mais fácil do que pensar. Daí existirem muito mais crentes do que pensadores.

    • Bruce Calvert •

  • Como se caça mina (I)

    Publicado por: • 13 nov • Publicado em: A Vida como ela foi

    A Europa inteira se uniu nas comemorações pelo aniversário de 100 anos da I Guerra Mundial, domingo último. Foram 9 milhões de mortos e 30 milhões de feridos. Hoje seriam três vezes mais. Eu faço parte dessa história, não como combatente – eu teria 100 anos agora – mas pelo fato de meu pai ter lutado na Marinha Imperial alemã a bordo de um caça minas. Cada vez que menciono isso, algum idiota confunde as duas guerras e acham que foi a guerra de Hitler.

    Findo o conflito, Franz Josef Albrecht tinha um dilema. A Alemanha vivia um caos, a hiperinflação chegando, e os jovens estavam sem futuro. Imaginem alguém com 18 anos ser jogado na chamada Guerra de Todas as Guerras. Então ele e amigos decidiram emigrar para o Brasil. Partiram de lá em dezembro e chegaram a Santos em janeiro de 1920.

    Lembro de ter perguntado para ele porque o Brasil e não outro país, e ele me explicou que já havia forte presença alemã aqui; a opção era a África do Sul. Depois de alguns empregos temporários e de percorrer o interior do RS a bordo de uma mula, acabou por se fixar em São Vendelino, então distrito de Montenegro, onde nasci.

    (Conclui amanhã)

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  • O mar não está para peixe

    Publicado por: • 12 nov • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    mar para poeicEsse monte de caniço na plataforma e acredite, ninguém pegando nada. O torneio de pesca que foi previsto para o feriado dos Finados, foi transferido para ontem, por causa dos ventos.

    E sábado as condições pioraram ainda mais. Não deu nem pra contar história de pescador.

     

    A volta de Capitu

    Capitu traiu ou não Bentinho no livro Dom Casmurro? Essa dúvida assombra fãs de Machado de Assis desde que o primeiro abriu o livro, em 1899. Passa-se mais de um século e Capitu submerge não como mulher, mas como nome de operação da Polícia Federal, que acabou por levar novamente o empresário Joesley Batista a um lugar onde se vê o sol nascer quadrado.

    A pulada de cerca

    Talvez o agente que dá nomes às operações da PF tenha se valido da Capitu da ficção para a nova operação. Afinal, um dos motivos que levaram à prisão foi o fato de ele ter enganado os federais. “Mentiu e ocultou fatos”, foi a razão da nova ofensiva. Portanto, tudo a ver com Capitu.

    Traições

    Joesley sempre poderá alegar que não traiu o Bentinho da vida real, mas, ao contrário do livro, não restam dúvidas que o empresário andou aprontando de novo. Aliás, desde o início dessa novela, quando divulgou a gravação com Michel Temer nos jardins do Palácio, Joesley falou tanto, divulgou tanto e contou tanto que era inevitável que ele tropeçasse nas próprias pernas. Chega um momento em que você não se lembra da mentira anterior.

    O enxadrista

    Todo bom enxadrista sabe que, ao mover determinada peça, o adversário fará um movimento que ele já esperava. E um bom criminalista não faz pergunta sem saber qual a resposta. O segredo da coisa é prever o que o outro fará, qual a nova peça ele já calculou antecipadamente e assim por diante. Pelo que se vê, Joesley é tudo menos um bom enxadrista. Se fosse, saberia que divulgar gravações como aquelas gerariam consequências imprevisíveis que, ao fim e ao cabo, acabaram por levá-lo à prisão e estragar boa parte dos seus negócios.

    A pedra no lago

    Um tablado de xadrez tem baias demarcadas; uma pedra jogada na água de um lago plácido gera ondas concêntricas imutáveis; uma gravação pesada como aquela gera efeitos imprevisíveis. É o Imponderável da Silva. O que eu quero saber de Capitu II é se ele, lá atrás, naquela noite em que tudo começou, pensava que o cocô que ele jogou no ventilador causaria o mesmo efeito previsível de uma pedra jogada na água?

    A grande dúvida

    Resta uma questão difícil de responder: A Capitu do livro traiu ou não traiu o Bentinho? Talvez nem Machado de Assis soubesse.

    The least…

    …but not the last, viram que a investigação da Polícia Federal chegou a propinas recebidas, em 2014, pela cúpula do Ministério da Agricultura? Ano danado esse de 2014. Naturalmente que ninguém sabia.

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