Publicado por: Fernando Albrecht • 5 fev • Publicado em: A Vida como ela foi •
Nascida em 1924 e voando desde 1941, a uruguaia Mirta Vanni mereceu extensa reportagem da revista Aviação Agrícola. Entre outras proezas, por ser a primeira mulher a pilotar aviões agrícolas no mundo, em 1947. A folhas tantas, ela relata como combateu a terrível praga de gafanhotos que assolou o Sul da América em 1946 e 1947. Não existiam, na época, estudos sobre as correntes de jatos (jet streams), que se deslocam no sentido leste-oeste em velocidades de até 300 Km/h, correntes de grande altitude em que os jatos comerciais pegam carona, para economizar combustível. Provavelmente, os gafanhotos africanos pegaram essas correntes e aterrissaram por aqui.
Pois eu vi a praga com meus olhos, apesar de ter apenas de três para quatro anos. Curioso como funciona a memória, eterniza algumas imagens e deleta outras. Vejo a cena como se fosse ontem, eu e meus primos correndo pelos potreiros de São Vendelino agitando panos vermelhos que, em tese, os espantariam. Não mesmo. Lembro como os colonos da região choravam ao ver suas safras perdidas. Eles comem tudo, qualquer vegetal. Não sobra nada.
Passam-se os anos e, em meados da década de 1970, eles voltaram a atacar no Rio Grande do Sul, mas em proporção menor. Eu estava no interior do Alegrete quando as nuvens chegaram. Felizmente para a região, os estragos foram mínimos. Foi então que surgiu a teoria das correntes de jatos que trouxeram a praga alada.
Estes insetos põem os ovos na terra e estes eclodem na primavera. Como essa estação foi muito chuvosa naquele ano, afogou os filhinhos da mãe. Aliás, foi uma das pragas que se abateu no Egito de Ramsés. O fato é que as imagens ficaram na minha retina. E a piloto Mirta Vanni, imagina, estava nos céus uruguaios combatendo quimicamente os predadores.
Publicado por: Fernando Albrecht • 3 comentários em Os gafanhotos de 1947