• A prisão do delegado

    Publicado por: • 19 mar • Publicado em: A Vida como ela foi

    O Horto Mercado da Quintino teve seus momentos de glória até meados dos anos 1990, quando a família proprietária vendeu o imóvel. Não era mais propriamente um entreposto de frutas, legumes, hortaliças etc. Apenas um arremedo de supermercado, floristas e outras (poucas) operações.

    Mas tinha um bar muito bom, o Box 21, espaço ainda embebido do espírito e dos fantasmas dos falecidos bar-chopes que era o diferencial de Porto Alegre. Turmas ruidosas, lanches e pratos que atraíam forasteiro. Teve vários sócios, às vezes três e às vezes dois até que a grande ceifadeira matou o Box exatamente por falta de segurança jurídica. O bar tinha uma coisa que matou os bar-chopes: estacionamento.

    Entre os vários personagens inesquecíveis figurava um policial, que era chamado de “Delegado de Prisão de Ventre”.

    Nunca tinha prendido ninguém.

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  • As diferenciadas

    Publicado por: • 19 mar • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    O Grande Expediente da Assembleia Legislativa “Empresas que fazem a diferença” dia 20 será dedicado aos 60 anos da Lojas Colombo e 30 da Bigfer. A proposição é da deputada Fran Somensi e inicia às 14h.

    As desaparecidas

    Existem algumas empresas longevas no Rio Grande do Sul que ultrapassam os 100 anos de existência ininterrupta e hoje estão fortes e saudáveis. A característica em comum é que são empresas familiares. Em compensação, tenho visto, ao longo da minha vida, empresas familiares que foram para o brejo justamente por essa condição. Sucessão familiar é um negócio complicado.

    Marcha-a-ré

    Nos anos 1960, boa parte das maiores empresas gaúchas, especialmente as nascidas e criadas em Porto Alegre, morreram por algumas causas perfeitamente detectáveis, entre elas a clássica gestão e, antes dela, a parada no tempo sem que os dirigentes se dessem conta que as coisas mudam, então a concorrência foi em cima por estar antenada com os novos tempos. Tipo “vamos em frente porque atrás tem gente”.

    Enterrados no banco

    Como fui assistente de gerência de um dos maiores bancos gaúchos, tinha aceso ao cadastro – naquele tempo cadastro não era binário como hoje, sim ou não para protestos, execuções etc. Vi coisas de arrepiar, falsos brilhantes que luziam só na aparência, mas por dentro estavam bichadas. Normalmente viviam pendurados em bancos, que à época cobravam juros amigáveis tipo 2% a 3% ao mês, e não o assalto que se paga hoje.

    Passando do limite

    Olavo de Carvalho deitou falação em cima do governo Bolsonaro, ofendeu o presidente em exercício Hamilton Mourão e por foi. Olavo é o oposto da esquerda furiosa brasileira. Se ele acha que governar o Brasil prescinde de composições e alianças ou que de uma penada só se pode desaparelhar o Estado vive num mundo de fantasia. Desejável é, mas na prática a teoria é outra.

    Positivo operante

    A carteira recomendada da Banrisul Corretora já acumula ganho de 20,03% em 2019. Desde a sua criação, em maio de 2016, acumula rentabilidade positiva de 343,53%. A carteira recomendada é uma sugestão de alocação de ativos, elaborada por Analistas de Valores Mobiliários, que tem por finalidade auxiliar os clientes servindo como referência para seus investimentos em renda variável.

    Bafo na nuca

    Mais de mil voos terão que ser desviados no verão europeu que começa em junho mas que já aumenta a demanda antes. O motivo é congestionamento aéreo, responsável pelos atrasos na Europa central, informa a agência espanhola Efe. Em um futuro próximo vai ser pior. A saída? A dor ensina a gemer, a tecnologia sempre acha uma saída quando vem o bafo na nuca.

    Pensando bem…

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  • As pessoas generosas são más comerciantes.

    • Honoré de Balzac •

  • Na saída do cinema

    Publicado por: • 19 mar • Publicado em: Artigos

    Luiz Carlos Félix – luizcflix@outlook.com

    Recordar o que testemunhamos, nem sempre deve ser sentido como um ato nostálgico, ou volta ao passado. O tempo passa, tudo muda numa velocidade quase luz, mas muitas coisas ficam na memória.

    Na década de 50/60, era comum os jovens de diferentes localidades se reunirem na Rua da Praia, formando ilhas. O Nosso grupo era formado por gente de Encruzilhada, Rio Pardo e arredores. Aos sábados à noite todos, “na beca”, depois de muito papo, escolhíamos os programas e muito se separavam. Cinema, só as salas do centro, reunião dançante ou iam para o Clube Dinamite.  –  Teatro de Bolso, sempre era uma boa pedida, palco para teatro de Revista com peças cômicas, mulheres seminuas e insinuantes, com muito rebolado.  Vimos ali Colé e Silva Filho com as “Certinhas do Lalau” (de Sérgio Porto – Stanislaw Ponte Preta). Depois passou a ser o Cine Palermo. Todos esperavam as vedetes saírem, que iam para o a Boate Marabá ou jantarem no Treviso, que nunca fechava.

    Davam-se outros bordejos, como na Confeitaria Matheus na Praça da Alfandega, aberta 24 horas. Lá um atencioso rapaz, sempre nos atendia com direito à provar os biscoitinhos expostos e de fabricação própria, mas o pedido era um farroupilha com pernil de porco, o único que podíamos pagar.

    Na Praça da Alfandega, tinha uma figura solitária e esquisita, vestindo casaco de pele. Chamavam de Mariposa. Diziam ser húngara, de amargas feições e   aspecto morfético, que não recebia nenhum assedio.

    A Livraria Coletânea nem lembro se fechava, mas era lugar acolhedor, para se buscar cultura, no fim da noite.

    Certa noite já em direção ao bonde fantasma, um solitário músico tocava violino na vitrine da Casa das Sedas, era um habilidoso artista da noite. Quando um gajo, gritou – Bravo Paganini e em troca recebeu o estojo do violino na cabeça.

    Com a edição dominical do Correio do Povo, embaixo do braço, pesando quase um quilo a noite terminava, sempre tranquila e segura, sem a presença de qualquer brigadiano.

    Desapareceu a Rua da Praia e com ela desapareceu o centro lindo, social e seguro.

    Chegou a moda do calçadão e fecharam o pano. O teatro acabou.

    Ali, passava a vida da cidade, contada e assistida em cima de cada paralelepípedo disputado, por muitos pés.

    Página virada, o mundo é outro.

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  • O uísque do Salim

    Publicado por: • 18 mar • Publicado em: A Vida como ela foi

    O publicitário Jorge Salim marcou época não só no seu ramo mas também como homem da noite. Foi dele, em sociedade com Fernando Vieira, aquela que foi considerada a melhor casa noturna da história recente de Porto Alegre. Dono da agência Arauto, costumava reunir amigos para almoços divinos preparados por sua cozinheira. Comida simples e gostosa.

    Também o bar que mantinha na sua sala estava sempre bem fornido de bebidas de todos os tipos, incluindo destilados com dezenas e dezenas de ano. Certa feita, foi visitá-lo um conhecido vereador, gente fina e ótimo parlamentar. Mal sentou na cadeira apontou o dedo para a prateleira de uísques atrás do Salim.

    – Quero aquele.

    Salim olhou para trás e viu que ele apontava um Royal Salut com rótulo verde.

    – Então é sempre no meu, justo o mais caro da coleção – resignou-se. – Com gelo?

    – Não, puro, cowboy.

    – Algo mais, excelência?

    – Sim, um cafezinho por favor,

    Salim chamou a servente que lhe entregou o pedido. O vereador pegou o café e o misturou com o uísque. E o turco olhando, estupefato.

    – Estragou os dois, hein? Só falta uísque com guaraná…

    O edil concordou.

    – Também gosto.

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