Os dois copos
As pegadinhas de outrora eram tão ingênuas que hoje o autor seria considerado uma besta quadrada e sem noção. Apertar na campainha das casas e sair correndo, ligar para a farmácia perguntando se tem vidro de éter aberto para em seguida dizer “fecha, se não evapora”, retratos de um mundo ingênuo.
Certa vez, eu e um amigo na faixa dos 16 anos, pegamos uma piada e a aperfeiçoamos para ter plateia. Consistia em sentar do lado de gente simples do interior, em cafés ou sorveterias, pedir um Guaraná e dois copos. Quando eles vinham, os olhávamos com estupefação. Um de nós levantava o copo e olhava no fundo.
– Estranho. Esse copo não tem boca.
O amigo descia o copo abaixo da cintura.
– Mais estranho ainda é o meu, não tem fundo…
Éramos patetas duas vezes. Uma pela piada infame e outra pelo que os estranhos pensavam de nós.