O vale de lágrimas

21 jul • NotasNenhum comentário em O vale de lágrimas

Uma das desvantagens de ser veterano no jornalismo é a repetição das bobagens, repetição das promessas vãs, os modismos que vão e voltam – como uma onda no mar, esperanças que viram desesperanças e a consciência de que tudo é efêmero. E não passamos de seres frágeis que, apesar da ciência, morremos por um vírus passado por macacos ou outros animais que ainda vivem nas poucas florestas que existem. 

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Por isso a importância do Dia do Amigo. Se perto da vida de uma borboleta somos longevos, perto de uma figueira centenária ou até de tartaruga marinha vivemos pouco. E aí a maldade da criação: temos consciência. Bicho não tem. Bicho não se pergunta de onde vieram e para onde vão. Bicho não vota porque não tem eleição. 

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Bichos, incluindo os seres menores como formigas, tem uma sociedade perfeita onde todos têm um papel ou tarefa a cumprir, assim como as abelhas. Operárias, guardas da colmeia do formigueiro ou de cupins com sua engenharia térmica que consegue reduzir a temperatura externa em mais de 15 graus C e ventilar as câmaras internas para evitar a ação de fungos e mofo na despensa cheia de comida. Se na superfície há um mínimo de barulho ou alguma picareta desce sobre o ninho.

O leão sem leão

Formigueiro não desaba por defeito estrutural, assim como nossas pontes e prédios. Ante alguma ameaça externa, imediatamente a engenharia e o controle de danos se põem em alerta para reconstruir a parte destruída. E tudo isso porque abelhas, formigas e seus primos cupins vivem sobre uma monarquia.

São as rainhas que dão vida às colônias. E, por isso, elas estão sempre em trabalho de parto e alimentadas pela boca pelas operárias. Afinal, operário é operário em qualquer regime, com a diferença que a Rainha trabalha 24 horas por dia. Nada de comer brioches e nem se entregar à volúpia ou dizer frases engraçadas como nas cortes francesas do século XVII. E não têm guilhotinas, nem forças, nem igrejas, nem céu nem inferno, nem 0800 que não funciona e nem imposto de renda. Nem o leão tem leão.

Do ponto de vista de organização e sobrevivência da espécie, é o regime perfeito. Fecunda a rainha quem votar mais alto na noite de núpcias, o mais forte voador.

Ah, mas elas não têm cérebro. Melhor. Pelo menos não têm remorso. Nem pagam aluguel ou são explorados

Não senhores e senhoras, a monarquia dos formigueiros  seriam destruídas e, com ela, toda a colônia, se o regime fosse como a nossa democracia ou outros regimes. Formigas e cupins não têm Câmaras de Vereadores, Congresso e nem jornais. Comunicam-se por odores e rastros químicos e por voltinhas milimetricamente danças como fazem as abelhas para mostrar a direção das flores. Pra que TV, jornal, Facebook, redes sociais e fake news que as acompanham?

Vocação para o desastre

Quem esculhambou tudo fomos nós. De alguma forma, formigas e cupins mais as abelhas devem estar rindo de nós. Não acredito que alguém nos tenha construído tão miseravelmente fracos, idiotas e com falhas de caráter desde o nascimento. Todos temos um lado bom que é arruinado pela mais apavorante do século XX, que somos governador por algo que não controlamos, o inconsciente. Se fomos construídos assim é o desastre perfeito. O lado ruim sempre vence.

Portanto, chuto o balde. Viva os formigueiros, viva as formigas, viva as colmeias, viva a rainha sem cetro e coroa. 

Imagine

Que estejamos como as bactérias que vivem dentro de nós. Nem elas têm consciência que fazem parte de algo maior, um ser monstruoso que nada mais é que uma bactéria que vive dentro de um ser monstruoso maior ainda e assim sucessivamente. Há muito espaço lá embaixo, disse o inventor da nanotecnologia, assim como há muito espaço acima de nós. Tudo faz parte de uma roda sem início nem fim.

Entreouvido por aí

Como os médicos concluíram que o exercício prolonga a vida? O coelho está sempre pulando, mas vive apenas dois anos. E a tartaruga, que não faz nenhum exercício, vive 100 anos.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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