O sumiço dos bolsos

20 out • NotasNenhum comentário em O sumiço dos bolsos

Um das características da vida moderna é deixar o consumidor entre irritado e desapontado. No meu caso, a primeira opção. Há retrocessos históricos em alguns produtos de largo consumo.

Exemplo, as camisas de manga comprida não têm mais bolsos. Justo quando se precisa deles para levar documentos, cartão e identidade, pelo menos. E nos bolsos das calças não cabe um dedal.

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E aí, como faz ao caminhar em aglomerações levando celular em uma mão – porque, no bolso, parte fica de fora? – e documentos no outro bolso da calça? E se botar carteira no bolso de trás, é convite ao azar.

O baiano tinha razão

Caetano Veloso foi profético quando compôs, em 1967, a música “caminhando contra o vento sem lenço e sem documento, eu vou”.
Estou convicto que é uma conspiração de estilistas e fabricantes de camisas e calças. Os fabricantes dizem para os estilistas:   

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– Precisamos economizar tecido. Quem sabe não colocamos mais bolsos? Conto com a astúcia de vocês. E eles realmente foram astuciosos. Contrataram influencies e colunistas de moda para que falem na moda do momento, tipo é usar camisas e calças sem bolsos e é brega usá-los. Quase ao mesmo tempo, as grandes cadeias de artigos de vestuário compram a moda que serve muito bem para os assaltantes. Acho até que combinaram com eles.

Como separar o corpo em dois

A ditadura da moda já obrigou as mulheres do séculos XIX e início de XX a usar espartilhos, uma tortura que consistia em apertar a cintura de tal forma que, se elas se inclinassem, poderiam se partir em dois, pode me  chamar de formiga. Pelo menos nessa luta as feministas estavam corretas ao pregar a insurreição do espartilho, ao tempo em que pediam para as mulheres abolir o sutiã. Aplausos meus, e sinceros.

Quando se vê os modelos e cores da moda de hoje, percebe-se a conspiração que chamamos de ditadura da moda. Nesta primavera é verde e cor de telha ou laranja, uma mistura de amarelo com laranja. O que faz o mulherio? Obedece. Quem não seguir a seita é out. E brega.

Vejo sinais do Armagedon também na ditadura da comida politicamente correta. Comer capim, lembrem-se, tira comida dos bois, vacas e cavalos. As socialites e apóstolas do corpo-cabide fingem que gostam comer essas estranhas misturas. De minha parte, acho que a mistura de tomate seco com rúcula originalmente era método de tortura usado pelos fundamentalistas árabes. Dois dias comendo essa dupla e você confessa até que envenenou Napoleão Bonaparte e pregou o último prego na cruz de Jesus Cristo.

Vereador por Marte

Não fiquem procurando chifre em cabeça de cavalo, como acreditar na teoria da conspiração de que os ETs já estão entre nós, mas não podem se revelar porque têm vergonha de serem terráqueos disfarçados. Alguns querem voltar ao planeta de origem tão logo enfrentem a burocracia das repartições públicas. E desistem de tomar o poder se candidatando a cargo político, ser vereador, deputado ou senador.

Ser não é nada, mas beijar criancinha, prometer o que não pode cumprir, fazer discurso de meia hora sem dizer coisa alguma, ah não, os ETs não tiveram treinamento para isso.

Sem falar naquela língua estranha em que pois sim significa não e pois não significa sim. ET tira o tubo como nós.

O Poder como fim

Do economista Eduardo Giannetti para o site O Antagonista: “Ao contrário do que alega a quase totalidade dos intelectuais, argumento na minha tese que as ideias não governam o mundo. Elas vêm, quase sempre, a reboque. São usadas apenas como um verniz legitimador para projetos de poder”.

Eis aí uma verdade inescapável. Eu acrescentaria que essa busca pelo poder utilizando argumentos demagógicos acontece principalmente na América Latina, no Hemisfério Sul, de uma maneira geral.

Na década de 1970, a bancada nordestina na Câmara dos Deputados citava o “pudê” como objetivo único dos coronéis do Nordeste. Por isso que nosso continente parece não ter jeito e se curva para os demagogos populistas. A consequência lógica é o velho ditado, manda quem pode, obedece quem precisa.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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