A confraria do cão aquecido
Existiu, em Porto Alegre nos anos 1990, a Confraria do Cachorro-Quente, cuja missão era resgatar o verdadeiro cão aquecido. Parece que a ideia era do jornalista cachorreiro José Luiz Prévidi. Não foi assim tão difícil o trabalho de garimpo da confraria, posto que só devem existir meia dúzia de estabelecimentos que ofertam o produto comme il faut, em Porto Alegre.
A primeira incursão foi na Confeitaria Princesa, subida da Andradas. Contrataram os serviços de especialistas, um batalhão precursor, como os antigos batedores indígenas a soldo da cavalaria norte-americana.
Alguns deles desenvolveram técnicas espetaculares. Um destes batedores, um publicitário local, incorporou o espírito de um famoso índio batedor da tribo shoshone chamado Coceira no Fiofó, a serviço do Exército americano no século XIX.
Não estranhem o nome. Sabemos que os peles-vermelhas davam aos filhos o nome da primeira sensação ou visão na hora que a criança nascia.
Voltando à vaca fria: o grupo garimpava um cão quente autêntico. De tempos em tempos, o índio shoshone gaudério encosta a orelha no chão, pede silêncio, e vai falando.
– Carrocinha, de alumínio reciclado…latinhas de Skol, não… Skin…salsicha uruguaia Cativelli…é gremista, ôba,..molho de tomate paulista, cebola de José do Norte…
Para não deixar ponta solta na história do índio Coceira no Fiofó: ele morreu atropelado por uma diligência da Wells Fargo, em 25 de junho de 1876. Mesmo moribundo, forneceu a um alto oficial da Cavalaria norte-americana a cor e idade dos cavalos e o retrato falado do cocheiro e do vice-cocheiro.
Mesmo nas vascas da agonia, ainda conseguiu dizer que o cocheiro não tinha os dois molares. E que um pré-molar estava cariado.
Desde então, o espírito do shoshone Coceira no Fiofó atravessa as brumas do tempo à procura de alguém que precise dos seus serviços. Nem sempre ele acerta. Da última vez, conduziu um grupo direto para uma carrocinha de churros.