O quartinho escuro
Quase todas as casas tinham um cantinho escuro em décadas passadas. Quando os donos da casa estavam dormindo, os audazes namorados o procuravam para um vapt-vupt.
Naqueles anos, levar a namorada, a conhecida ou a namorada de um amigo para o combate de Eros era tarefa mui difícil. Principalmente para quem não tinha carro, e poucos o tinham.
Foram tempos em que a criatividade só perdia para o desejo turbinado por toneladas de testosterona. Os motéis eram poucos, poucos mesmos. Até os anos 1960, o mais conhecido era o da Marly, na avenida Padre Cacique quase defronte ao Viaduto Dom Pedro I, devidamente chamado de Viaduto da Marly logo após a inauguração solene da salvação de trânsito naquela área.
Cada bairro tinha lá seu quartinho escuro. O campeão deles para os bairros Floresta, Moinhos de Vento e Independência era o barranco e a escadaria do Morro Ricaldone à noite e pela madrugada.
O problema era quando tinham a mesma ideia ao mesmo tempo. Outro ponto ficava na escada que dava acesso ao banheiros da Praça do Bartão. Exigia alguma acrobacia, é verdade.
No Centro, dois points, a escadaria da Rua 24 de Maio e a pracinha do Alto da Bronze, na rua Duque de Caxias.; Mas nunca de dia ou início da noite.
Paredes de prédios com empena cega eram muito procuradas, mas havia o dissabor de ser tudo em pé. Um olho nos transeuntes, outra para debulhar as roupas da querida. Quanto aos carros, bem, os donos dos grandalhões iam para o Sétimo Céu ou Morro Santa Tereza.
Fosse hoje, ficariam pelados para sempre e, dos carros, não sobrariam nem os ventís dos pneus. Havia outros pontos bem à vista e, por isso mesmo, ninguém imaginaria que seria templo do sexo. Não digo onde, só 100 anos depois da minha morte.
O Fusca, ou Fuca como eram chamados na época, exigiam um certo contorcionismo em grau de Cirque de Soleil. Não tanto pela entrada, mas principalmente na saída.