O caso do defunto ambulante

22 abr • A Vida como ela foiNenhum comentário em O caso do defunto ambulante

A história da cuidadora de idosos que levou de cadeira de rodas um cliente morto a um banco em Bangu, Rio de Janeiro, para sacar dinheiro na conta dele é um causo de nunca esquecer. Ela alegou que ele estava vivo quando chegou na agência e que morreu no caminho, o que faz sentido. Morto não digita senha.

Episódios com mortos enchem um livro. Nos anos 1980, uma ruidosa mesa do Bar Pelotense, na rua Riachuelo, soube que um da roda havia falecido, e que o velório era no João XXIII, capela tal. Depois de várias saideiras, lá se foram eles prestar a derradeira homenagem àquele que, em vida, fora um soldado do uísque, e soldado de primeira classe.

Em lá chegando, resolveram molhar o bico na lancheria do cemitério. Após algumas rodadas e efusivos brindes à memória do falecido, foram à capela.

Compungidos, formaram um círculo ao redor do caixão, deram pêsames à família – que não conheciam, não se mistura família com bar – e choraram abraçados. E assim ficaram por meia hora.

Um deles, um engenheiro polaco que era mais observador, resolveu olhar o defunto mais de perto. Ele tinha a mania de fechar um olho para concentrar esforços no outro. Ficou a centímetros do vidro e deu um salto para trás.

– Não é ele! Entramos na capela errada!

E mais essa. Como o tom de voz do polaco era tão potente que acordava defunto – menos esse – houve um início de tumulto entre os que lá estavam.

Pelo menos dois que não eram íntimos do indigitado falecido repetiram o gesto do engenheiro. Vai que, não é mesmo?

O pelotão de borrachos saiu em ordem desunida. Foram para o novo desafio, descobrir em qual capela o amigão estava sendo velado.

Para melhorar a visão, resolveram calibrar a pressão com mais uma rodada, desta vez em um bar mais distante. Voltaram 40 minutos depois e fizeram uma pesquisa na secretaria do João XXIII.

Contaram que nunca houve velório com o nome fornecido por eles. Foi mais um choque coletivo.

Depois de alguns telefonemas, souberam que era no São Miguel e Almas, e para lá correram. Mais uma amarga desilusão, o enterro já fora feito.

Voltaram para a Pelotense e fizeram uma investigação para identificar quem fora o fiadamãe que dera o serviço errado. Ninguém se lembrava mais do patife.

Teve também o caso defunto que, ao ser carregado para a última morada, estatelou-se no chão porque a família pedira um caixão barato. Mas essa já é outra história.  

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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