Lembranças no Chalé
Ontem fui ao Chalé da Praça XV matar saudades. Era um chão amigo principalmente nos anos 1970 e meados dos 1980.
Quantos lembranças, meu Deus. Uma infinidade de almas que já viraram almas de verdade, voam por aí quem sabe no Chalé mesmo procurando desesperadamente o gerente Helmuth, Tico-Tico, ou seu João para pedir um chope ou uma dose de uísque cowboy, sem gelo.
Sentei na parte antiga, na mesma mesa que gostava naqueles verdes anos, do lado direito. Naquele tempo o Mercado Público abria domingos de manhã, e o Paco, garçom chileno, lançava maldições a Pinochet.
Bebia-se muito uísque, vodka e conhaque português Macieira 5 estrelas. Chope e cerveja era para amadores.
Olhei para o lado e relembrei uma cena de meados dos anos 1970. Do lado do antigo abrigo dos bondes, um pastor e sua filha entoavam cânticos e prometiam milagres a um pequeno grupo de resolutos fiéis. Um bombeirinho – pastor em estágio probatório – puxava a claque aos gritos de aleluia e refrões do gênero.
Quando o pastor e sua filha, com voz estridente e desafinada, foram-se, sobrou o bombeirinho vendendo bíblias para quem se interessasse. Nisso, um pobre coitado vestindo andrajos ajoelhou-se à sua frente e aos prantos pedia um milagre.
O homem da Bíblia, um corpulento cidadão vestindo paletó e gravata que parecia um melancia de terno, botões explodindo, atendeu o súplica do fiel colocando as mãos na sua cabeça não sem antes tirar os poucos caraminguás que o coitado tinha. Quando o bombeirinho viu que eu estava olhando, piscou-me um olho e seguiu na reza.
Meu estomago doeu.