Diário de um ET

23 dez • NotasNenhum comentário em Diário de um ET

Querido diário. Ainda não estou bem aclimatado no planeta Terra e portanto só posso registrar estupefações. E como as tenho!

Por determinação do Império Galáctico, estou numa cidade chamada Porto Alegre, que fica no estado mais meridional de um conjunto de estados chamado Brasil. Que povo estranho. Por esta época eles preparam uma festa chamada Natal, cuja noite principal é dia 24, quando fazem troca de presentes.

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Habito o corpo de um humano. Quando cheguei neste aglomerado urbano ainda com meu escudo de invisibilidade, escolhi morar em um adulto com vestes coloridas cor de laranja, que me pareceu ser pessoa importante na hierarquia. Com meu chip despejando informações no cérebro, descobri que estas pessoas se chamam gari.

Não gostei porque, em seguida, vi-me empurrando um carro com rodas – eles ainda não descobriram a levitação – com um pedaço de pau cheio de cerdas na ponta, que eu devo usar para limpar o leito das ruas.

https://cnabrasil.org.br/senar

Assim que recarregar meu chip com informações novas, vou habitar outro corpo. Eu pensei que aquele pedaço de pau fosse uma espécie de estandarte e que o veículo retangular que eles empurram – eles ainda usam polímeros – era uma mesa de jogos. Pior é que a população não parece gostar muito deles, porque nem mesmo os cumprimentam.

Descobri que a festa de Natal é uma reunião de famílias onde os adultos bebem e comem e dão presentes para as crianças não encherem o saco deles (Aprendi essa frase hoje, não sei bem onde entra na história esta parte do corpo humano). O mais estranho é a figura central do Natal, uma espécie de pai falso chamado Noel com um gorro ridículo, que se veste com peles próprias para temperaturas abaixo de zero numa estação em que faz bem mais de 30 graus Celsius de dia.

Há muitos deles por toda a cidade. Mas deve ser uma espécie em estágio primitivo porque nem mesmo sabem falar, além de ho-ho-ho. Mas devem ser primatas alegres, estão sempre rindo.

Também por esta época eles comem muito uma massa chamada panetone, que eu descobri ser italiana – nada a ver, de novo. O sabor é estranho, e após analisar essa massa borrachenta, deduzi que os humanos deveriam usá-lo para cobrir os buracos nas ruas. Nem usinar precisa, é deitar direto.

Termino por hoje, querido diário. Voltarei quando estiver em outro corpo.

Órfão de cafeteria

Fiquei sabendo que a cafeteria que vou às vezes vai fechar. Fica na Ramiro Barcelos quase esquina Independência.

Pequena acolhedora, gosto – gostava – de ir lá quando queria ficar sozinho com meus fantasmas, que se acostumaram com o local. O que vou dizer para eles, e para onde iremos? Que ano fiadamãe! 

Xô, galinha!

Entre as expressões que o TSE quer tirar do cotidiano está “galinha de macumba”. Como qualquer despacho que se preze tem um galináceos no ritual, qual será na visão de suas excelências a substitua? Galináceo de culto?

Tudo começou quando alguns cargos oficiais tiveram que colocar funções no politicamente correto. E ascensorista virou oficial (!) de transporte vertical. No Brasil ninguém gosta de ser rabo de sardinha, todos querem ser cabeça de baleia. Mesmo que a baleia seja um lambari.

Como era magro meu peru!

Antes de criarem perus com anabolizantes capazes de transformar um pinto em hipopótamo, os perus de Natal eram esquálidos, magros e com pouca carne branca. Não se tinha o hábito de comer peru no Natal, até que inventaram o sarrabulho, deram uma engordadinha com milho e sorgo às aves e eles viraram lutadores de MMA. A carne que era escura ficou branca.

Mais recentemente, inventaram um frango monstruoso chamado Chester. Esse era quase todo de carne branca com ossinhos tão finos que não dava para fazer um sopão no dia 26 de dezembro como antigamente. Esse bicho vivo tiraria todo seu apetite. Acho até que deveria ser usado no Halloween ou em filmes de terror. Pensando melhor, Halloween não, porque a criança poderia ficar traumatizada.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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