Histórias do boi velho

31 jan • A Vida como ela foiNenhum comentário em Histórias do boi velho

Almoçar e jantar na Porto Alegre dos anos 1960, início dos 1970, evidentemente não tinha a oferta que existe hoje. Nem demanda, porque se almoçava em casa e se voltava para o basquete. Então o movimento maior ficava no Centro Histórico. Nos bairros, só PF, bem como na área central. Pobre trazia marmita, meio pobre comia PF, ou completo. Superpobre comia banana com pão ou um bolo asqueroso chamado mata-fome com batida de abacate ou banana.

Classe média almoçava na Espaghetilândia, na Borges com entrada pelo Beco do Mijo, a Rua 24 horas que é Rua 12 horas e olhe lá, no Matheus, na Baiana, ambos na Andradas. Comida a quilo pesada pelos olhos do atendente, ou o PF do dia.

Na subida da Otávio Rocha, duas operações mais em conta lado a lado, ambas do grego Napoleon Kristakis, o que levava seu nome e a Churrascaria Quero-Quero. Ele foi mordomo do bilionário armador Aristóteles Onassis, que casou com a viúva Jaqueline Kennedy, o ordinário. O mundo só é justo para os muito ricos.

A duplicação da Júlio de Castilhos liquidou com um puxado do Mercado Público, e com ele a Churrascaria Urca. É preciso esclarecer que carne era uma loteria, eis que vinha de boi com cinco ou mais anos. Até o filé mignon podia ser duro como filé de sapato. Ao lado, o Graxaim, o Treviso do B.

O Gambrinus já estava lá quando Pedro Álvares Cabral chegou com suas caravelas. O Naval era frequentado por marinheiros brigões. Quem sobrevivia ao mocotó ficava com sequelas permanentes.

Dando uma recorrida no campo, na Ramiro Barcelos, ao lado da igreja, ficava A Brasa, do português Manoel Tavares. Depois ele abriu outra, o Boi na Brasa, em travessa da Benjamin Constant.

Na Cristóvão Colombo, perto da Doutor Timóteo, uma churrascaria realmente diferenciada, o Rancho Alegre. Não era para o bico da classe média baixa, a não ser juntando o 13º salário. Pobre comia bem na Cabana do Santos, no IAPI, a primeira churrascaria da Capital. Não está aberto a discussões: esta crônica não é democrática.

Na Ipiranga, imediações da Silva Só, uma churrascaria mágica, a Dois Maninhos. Foi a primeira a vender cerveja uruguaia em garrafa de litro. Parecia água com espuma. Podia até botar em mamadeira de nenê sem risco. Pizzaria, talvez a única digna desse nome, a El Molino, na Cristóvão Colombo, imediações da Ramiro Barcelos. Excelente, com um molho que era despejado através de uma rolha furada em  garrafa de Pepsi-Cola.

Acredite se quiser: a pizza do El Molino levava orégano.

https://www.brde.com.br/?utm_source=fernandoalbrecht.blog.br&utm_medium=banner&utm_campaign=BRDE%2060%20Anos

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »