Falhas na comunicação
Foi o caso do libanês Hamid em Iskandar, uma simpática figura que estava sempre na Rua da Praia em tempos passados. Chamava atenção pelo porte alto, com cerca de 1m90 de altura, vestindo um longo capote preto e quase sempre com um charuto na boca, foi um dos tipos inesquecíveis do Centro Histórico.
Entender sua fala nem sempre era fácil, devido ao seu forte sotaque libanês. Certa feita, apareceu no Café Rihan, hoje Panvel do Calçadão, com uma enorme bolota vermelha na bochecha. Impressionado, o jornalista Carlos Coelho apontou sua bengala para o rosto de Hamid com olhar interrogativo. Veio a explicação.
– Bespa!
Outra interrogação, outra resposta.
– Bassarinio breto fez bzzz machucou Hamid.
Frase quase criptografada, mas em segundos caiu a ficha do Coelho. Passarinho preto era vespa, que deu uma ferroada na bochecha do libanês. Um dia chegou a minha vez. Um amigo, advogado aposentado, teceu fios de amargura por não encontrar mais salsicha bock com gosto de salsicha bock.
Concordei com ele, porque, de fato, é um festival de lecitina de soja nos embutidos. Ponderei que havia marcas boas e dei a ele o nome de uma, fabricada perto de Nova Petrópolis, à venda em uma determinada banca do Mercado Público. Ele exultou e foi às compras. Dois dias depois veio a mim.
– Mas não essa! Eu queria aquela que ao quebrar a carne salta fora!
Levei algum tempo para processar o enigma. Depois de muita tentativa e erro, fiat lux. De fato, era um embutido, mas nada a ver com salsicha.
Ele queria salsichão.