As namoradas do Farolito

28 fev • A Vida como ela foiNenhum comentário em As namoradas do Farolito

O Farolito, bar que hoje chamamos de danceteria, ficava na Rua da Praia depois da Caldas Júnior para quem vai para o Gasômetro. Perto da hoje catedral episcopal da Santíssima Trindade. Bar, pista de dança, mulheres da casa e alienígenas. Um dos mais chegados era o Benito.

Deu-se que o Benito andava de olho numa sirigaita. Nesta fatídica noite, ela estava com uma amiga. Lindas as duas.

Ele a convidou para dançar, ela explodiu um “não” em volume tal que a recusa foi ouvida em Viamão. Chateado e com a autoestima pulverizada, Benito convidou a amiga da recusante para dançar um foxtrote.

– Eu vou, mas é só uma, certo?

Os dois rodopiaram por algum tempo, música tocada por um conjunto de verdade. Ela quieta no borboleteio. O Benito puxa papo clássico de cabaré, modelo de entrada.

– Você vem sempre aqui?

– Quer dizer que além de dançar em tenho que conversar?

A essa altura, o Benito já achava que foi algum trabalho forte. Malandro não veste carapuça nessas horas, então resolveu terminar a “marca”. Numa rodopiada sentiu algo bater nas costas, depois de novo e mais uma vez. Olhou para o chão, intrigado, viu que eram pedaços de gelo atirados pela linda mulher que ele tanto queria, e que no início fez forfait.

De repente, o mundo era belo. Ciúme. Ela estava com ciúme dele, afinal de contas, e aquele “não” era charminho. Como era bom ser o rei do pedaço. Que nada.

Durou pouco a ilusão. Quando a música acabou, a parceira largou o Benito como se ele fosse uma cobra cruzeira e saiu correndo a se aninhar nos braços da amiga.

O mundo voltou a ser cruel. O tiro ao alvo com gelo se deu por ciúme, puro ciúme – dela. Unha e carne há muito tempo, como um pesaroso Benito soube depois pelo garçom.

O estresse pós-traumático o acompanhou por muito tempo. Anos depois, ele me contou o caso abraçado numa Brahma Extra no Dona Maria, acompanhada de tristeza e indignação.

– E eu lá no meio da pista bancando o paiaço…

https://www.brde.com.br/

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »