As namoradas do Farolito
O Farolito, bar que hoje chamamos de danceteria, ficava na Rua da Praia depois da Caldas Júnior para quem vai para o Gasômetro. Perto da hoje catedral episcopal da Santíssima Trindade. Bar, pista de dança, mulheres da casa e alienígenas. Um dos mais chegados era o Benito.
Deu-se que o Benito andava de olho numa sirigaita. Nesta fatídica noite, ela estava com uma amiga. Lindas as duas.
Ele a convidou para dançar, ela explodiu um “não” em volume tal que a recusa foi ouvida em Viamão. Chateado e com a autoestima pulverizada, Benito convidou a amiga da recusante para dançar um foxtrote.
– Eu vou, mas é só uma, certo?
Os dois rodopiaram por algum tempo, música tocada por um conjunto de verdade. Ela quieta no borboleteio. O Benito puxa papo clássico de cabaré, modelo de entrada.
– Você vem sempre aqui?
– Quer dizer que além de dançar em tenho que conversar?
A essa altura, o Benito já achava que foi algum trabalho forte. Malandro não veste carapuça nessas horas, então resolveu terminar a “marca”. Numa rodopiada sentiu algo bater nas costas, depois de novo e mais uma vez. Olhou para o chão, intrigado, viu que eram pedaços de gelo atirados pela linda mulher que ele tanto queria, e que no início fez forfait.
De repente, o mundo era belo. Ciúme. Ela estava com ciúme dele, afinal de contas, e aquele “não” era charminho. Como era bom ser o rei do pedaço. Que nada.
Durou pouco a ilusão. Quando a música acabou, a parceira largou o Benito como se ele fosse uma cobra cruzeira e saiu correndo a se aninhar nos braços da amiga.
O mundo voltou a ser cruel. O tiro ao alvo com gelo se deu por ciúme, puro ciúme – dela. Unha e carne há muito tempo, como um pesaroso Benito soube depois pelo garçom.
O estresse pós-traumático o acompanhou por muito tempo. Anos depois, ele me contou o caso abraçado numa Brahma Extra no Dona Maria, acompanhada de tristeza e indignação.
– E eu lá no meio da pista bancando o paiaço…