As duas Porto Alegre

31 mar • NotasNenhum comentário em As duas Porto Alegre

Entre no South Summit ora em curso em Porto Alegre. Assista a algumas palestras e debates. Maravilhe-se com ideias que podem fazer a diferença. Absorva conhecimento e alargue seus horizontes.

Se falar inglês, melhor; se não falar, ponha no tradutor do Google. Após algumas horas, pegue um ônibus que faça trajeto longo, digamos para o bairro IAPI.

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Sente-se na janela e olhe  a paisagem com olhos de olhar. E preste atenção no modo de dirigir do motorista. Sinta, com a retaguarda, o calçamento irregular e os buracos que repercutem na sambiqueira.

Quando chegar ao fim da linha, vais sentir o brutal contraste entre o charme do South Summit, com jovens executivos vestidos quase sempre da mesma maneira, jeans azul com polo azul mais claro ou camisas brancas.  Olhe as gentes passando pelas calçadas, apressadas, semblante sério ou emburrado, correndo para fazer tarefas ou compras necessárias.

Observe como proliferam os espaços de lanches rápidos, como xis, burguer e PF por 15 reais, sem carne ou com carne mais dura que madeira de lei.

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Não há charme nem no modo de servir nem no jeito de comer. Não se fala inglês, nem yes dizem.

Observe também as calçadas com desníveis e prontas para romper seus ligamentos. Espere nos terminais de ônibus e sinta gente nem um pouco sorridente.

Essa é a cidade grande. Parte pequena charmosa, parte grande infeliz e lutando pela sobrevivência. Com pequenas alegrias bebendo cerveja no fim do expediente. Não se espante. É assim em quase todo mundo. Extraem alegria como podem e de onde podem.

Capitalismo não-selvagem

Eis algumas regras que ajudam a ser um capitalista não-selvagem, regime que ainda vai afundar o bom capitalista, se continuar nessa marcha insana.

Pague bem seus funcionários e, se não for acima da média, pelo menos dê a eles uma participação sobre os resultados (PPR), que os deixará felizes na expectativa de um dinheirinho extra. Ainda mais no final do ano que tem Natal e despesas de fim de exercício.

Para estimular a qualificação, dê preferência a quem se interessar por ela. Funcionário bem pago ou com renda extra deixa a família feliz, especialmente a esposa.

Forneça material escolar ou pague pelo menos parte dele. Como já dizia o Príncipe, o bem se faz aos poucos. 

Faça seus cálculos para dar uma cesta básica. Se o número de empregados for muito grande, talvez algum convênio com empresas fornecedoras. 

Use a imaginação. Por isso você é empresário, supõe-se que enxergue um pouco mais longe que as pessoas comuns.

O refeitório em grandes empresas é obrigatório. Se for pequena, vale-alimentação é uma boa. Você vai me dizer que não tem como dar todas as benesses referidas acima. Eu respondo que não são benesses, são obrigações para aumentar a produtividade.

Nem formiga trabalha de graça para o formigueiro. Para carregar comida tem que estar bem alimentada.

Dependendo do tamanho da sua empresa, abra as portas do seu gabinete para eles. Ou, uma vez por semana, pelo menos almoce com eles na cantina e diga que aí não tem patrão. É um ser humano que quer saber o que eles acham. Ponha-os à vontade. Não use gravata nem roupa cara.

Uma caixinha de sugestões é fundamental. Boas ideias surgem até mesmo no mais humilde peão. E não deixe de agradecer. De preferência, por bilhete escrito, não o e-mail ou whats anódino, frio como cobra ao amanhecer. Não é à toa que se usa a expressão olho no olho para fechar bons negócios.

Destaque uma pessoa do RH para dar apoio quando falece alguém da família. Um ombro amigo é inesquecível. Faça das tripas coração para dar essa demonstração de humanismo. Ponha-se no lugar dela.

Se você achar que estou dizendo bobagens, meus pêsames. Você é um capitalista que está na linha de frente na tarefa de destruir o capitalismo.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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