A Tia, seu Cassel e o Sarrafo

21 ago • A Vida como ela foiNenhum comentário em A Tia, seu Cassel e o Sarrafo

Saio do Banco da Província, na rua Uruguai  esquina Sete de Setembro, e dou uma espiada no Bar Gauchinha, na Andradas, sobreloja, reduto de boleiros. Entre eles, o goleiro do Inter, amigo de juventude Luiz Carlos Schneider e o colega Breno, do Caxias.

Sigo adiante e, na subida, fica o bar do Zé Português, o Oásis. Zé construiu um veleiro de metal, mesmo não sabendo velejar. Na vitrine, camarões gigantes, caros à beça. Raramente alguém os pedia. Diziam que eram de plástico. Luís era o garçom preferido.

Na esquina da  Independência com Coronel Vicente, está uma bar-lancheria, o Roquete. Nome derivado do potente motor Rockett do Oldsmobile.

Sempre pela calçada da esquerda, chegamos ao Bar Líder, que entre outros donos teve o Sarrafo. Servia um dos melhores filés acebolados da praça. Na cozinha, o Adamastor, eternamente com casquete tipo usado pela Marinha. Sarrafo era magro como uma ripa de madeira, mas depois engordou e quase virou tora.

Na esquina com a Garibaldi começa o território das boates, com o Uísque Agogô, do Ruy Dallapicola. Do outro lado, o Styllo’s Bar, que entre outros donos teve o político Sereno Chaise, com os garçons Blanco e Blanquito, que mudou o nome para Barcacinha perto do fim. Hoje, é uma Panvel.

Colado, o Cine Vogue, minúsculo. Só passava filmes cult, daqueles que se dizia que o filme era um merda, mas que o diretor era genial. Convite à incompreensão.

Na quadra seguinte, o bar Rubayat. Em rápida sucessão, as boates Locomotive, do Éldio Macedo, o Vila Velha do Carlos Heitor Azevedo, e o Butikim do montenegrino Ruy Sommer.

Quase do lado oposto a Tia Dulce, cuja sopa de cebola era usada para tirar pessoas do coma na primeira colherada. Pendurado no balcão, o premiado costureiro espanhol Catani. Numa mesa, seu Cassel, o marido da tia. Foi tenente do Exército americano na II Guerra Mundial. Aos mais chegados mostrava a pistola .45 que trouxe de recordação do front europeu.

Ao lado, com entrada no fundo, Rubem Val cantava tangos para uma plateia repleta de mulheres maduras e suspirantes. Rubem se gabava que sabia a letra de todos os tangos.

Então, certa noite, pedi que cantasse um cuja melodia não terminasse com TCHAM TCHAM. Ele me apontou um dedo de perplexidade.

Também teve o caso do japonês da carrocinha de cachorro-quente que surrou seis que tiraram sarro da sua namorada. Mas essa já é outra história…

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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