A história
Na segunda metade dos anos 70, o cineasta canoense Jesus Pfeil produziu um documentário chamado “Porto Alegre, adeus”, registrando o fim dos bares e restaurantes tradicionais. Um dos bares era o Pelotense, na rua Riachuelo, cuja barulhenta Mesa Um ocupava uma das mesas de mármore sustentadas por ferro trabalhado em elegantes arabescos.
Nela sentavam desembargadores, juízes, jornalistas, promotores e pecuaristas, que consumiam boa parte da produção brasileira de uísque. Certo dia, Jesus avisou que o bar e especialmente a Mesa Um seriam filmados no dia seguinte, o que aconteceu.
O estabelecimento se encheu de refletores, câmeras em tripés, azáfama de técnicos e eletricistas. Compreensivelmente, ninguém da roda apareceu. Já bastava a fama, não a queriam ver 24 quadros por segundo.
Mas a mesa não ficou vazia. Como a notícia havia se espalhado, apareceram vários brancos no samba, amadores e tomadores de guaraná, que nada tinham a ver, eram papagaios-de-birita.
O único presente, por desavisado, foi um general da reserva, que tinha como características beber gim-tônica e pintar o cabelo, mas não o bigode.
Meses depois, o documentário ganhou as telas. Quando a câmera centrou na Mesa Um, ouviu-se em off a voz solene de Jesus Pfeil (onde andará?) falando da “mais famosa mesa de toda a Porto Alegre”. Só que dos famosos em questão, só aparecia o general, o resto era uma massa de cretinos.
Deprimente. Quando o filme terminou, fiquei pensando em como a humanidade costuma contar a história como ela não foi.
As gerações seguintes que assistissem o “Porto Alegre, adeus” do Jesus Pfeil comentariam o famoso grupo, com aqueles rostos que estavam tão longe da realidade quanto um picolé no Polo Norte.